sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Coisas que você deve saber antes de adquirir uma lente para astrofotografia

Quem tem acompanhado o meu blog este ano deve ter percebido que, para astrofotografia de céu profundo, é cada vez maior a minha predileção por lentes. Isto ocorre por vários motivos, lentes são mais leves, mais rápidas e mais versáteis do que telescópios. Geralmente aumentam menos, mas para céu profundo isso muitas vezes é mais uma vantagem do que uma desvantagem, pois muitos objetos deste tipo precisam de um grande campo para serem captados de forma adequada. É claro que com maiores aumentos você conseguirá registrar mais detalhes de objetos de campo aparente pequenos, como galáxias mais distantes e nebulosas planetárias. Estes objetos são mais indicadas de serem fotografados com um telescópio de 1000mm de distância focal ou mais. Entretanto, com um instrumento destes você não conseguirá, por exemplo, capturar a Nebulosa América do Norte ou o complexo Rho-Ophiuchi em todo sem esplendor.

Este ano eu descobri uma série de coisas sobre lentes que a gente deve pensar antes de adquirir uma. Um pouco deste aprendizado foi na base de erros, mas muito foi através da ajuda de amigos e ampla pesquisa na internet.

Veja abaixo algumas coisas que aprendi, e que se deve levar em consideração antes de adquirir uma lente para astrofotografia.

- Distância Focal indica o aumento de uma lente.

Lentes não diferem nada de telescópios em muitas características, até por que telescópios refratores nada mais são do que lentes em que você pode colocar uma ocular (da mesma forma que lentes também podem ser consideradas como telescópios adaptados a sensores). Em telescópios abertura é a primeira característica a ser apontada, depois vem a distância focal. Meu telescópio é um Refrator de 102mm de abertura com distância focal 710mm. Se fosse uma lente ele seria classificado como uma lente de 710mm F7.1 (onde o F seria a abertura). Note também que em lentes normalmente a abertura é dada pela relação entre a distância focal e o diâmetro da objetiva, o que em telescópios costumamos chamar simplesmente de relação distância focal/abertura (o que pra mim está mais correto).

Quanto maior a distância focal de uma lente, maior será o aumento proporcionado por ela. Uma lente de 100mm dará um aumento duas vezes maior do que uma lente de 50mm, mas também mostrará uma área menor do céu. Vale lembrar que como aumentos são uma relação unidimensional (uma bola de 2 metros de diâmetro é considerada duas vezes maior do que uma bola de 1 metro de diâmetro) e a área é uma relação bidimensional, ou quadrada, um aumento duas vezes maior proporcionará a captação de uma área quatro vezes menor do céu.

Duas imagens captadas com distâncias focais diferentes. A da direita foi captada com o dobro da distância focal. É possível admirar melhor detalhes da nebulosa, mas repare que o objeto não coube por inteiro na foto.

Nesta outra imagem acontece justamente o contrário. O objeto alvo ocupa uma área menor do céu, fotografá-lo com uma lente de menor distância focal deixa um grande vazio na imagem, pontilhado por estrelas. Uma maior distância focal nos permite observar com mais detalhes mostrando o objeto por inteiro. 

Lentes fotográficas não são muito indicadas para fotografia de galáxias distantes, nebulosas planetárias ou qualquer outro objeto que ocupe uma área muito pequena do céu (a não ser que você queira justamente mostrar o contexto em que o objeto está inserido ou vários desses objetos ocupando uma área em comum, como ocorre em aglomerados de galáxias). Lentes são mais adequadas para galáxias próximas, como Andrômeda, Triângulo e as Nuvens de Magalhães e, principalmente, para as grandes nebulosas de nossa galáxia, justamente por que dão menos aumentos do que um telescópio. Para mostrar a Via Láctea em si, são a única opção.

Em astrofotografia abertura indica principalmente a velocidade da Lente

Como eu disse acima, abertura, em lentes, na verdade indica a relação entre o diâmetro da objetiva e a distância focal da lente. Em fotografia isso determina a velocidade da lente, sendo uma informação de extrema importância para astrofotografia. Normalmente quanto maior a abertura, maior a velocidade numa proporção ao quadrado, já que o dobro do diâmetro da objetiva quer dizer que ela tem quatro vezes mais área de absorção de luz. Note, que como a abertura é definida pela  distância focal dividida pelo diâmetro da objetiva, quanto menor for o F, maior será a abertura. Por isso uma lente F/2.0 tem abertura maior do que uma lente F/4.0. É também normalmente mais cara, e devido ao tamanho da objetiva, normalmente também é mais pesada. Vale lembrar que uma lente F/2.0 capta, em um minuto de exposição, o que uma lente F/4.0 leva quatro minutos para captar. Você pode conseguir com a lente F/2.0 em apenas duas horas de exposições o que levaria oito horas para conseguir com uma F/4.0, com frames mais curtos e o telescópio bem alinhado, pode chegar a dispensar autoguiagem, uma das maiores dores de cabeça da astrofotografia (pelo menos pra mim).

Acima, vemos duas lentes de mesma distância focal (200mm), mas com aberturas diferentes, sendo que a da direita é F/2.0 e a da esquerda é F/4.0. Se fossem telescópios a lente F/2.0 seria considerada um telescópio de 100mm de abertura e 200mm de distância focal, e a F/4.0 seria um telescópio de 50mm de abertura com os mesmos 200mm de distância focal. 

Resumindo, lentes com maior abertura são muito melhores do que as de menor abertura (mas lembre-se que também podem ser bem mais pesadas e caras).

Nem sempre uma lente trabalha bem na sua maior abertura.

Uma das coisas legais em lentes, é que você pode regular a abertura dela. Você pode configurar uma lente de abertura F/2.0 para vários números abaixo de F/2.0, como F/4.0 ou F/8.0. Em fotografia convencional isso é muito usado principalmente para regular a profundidade de campo. Quando vemos uma foto de uma pessoa em que o fundo está todo desfocado, normalmente estamos vendo uma foto em que a lente está bem aberta, quando a mesma pessoa está sobre o mesmo fundo, mas este também está com foco, é por que a lente está mais fechada. Normalmente essa regulagem da abertura é feita fechando-se o diafragma da lente, que torna a passagem de luz mais estreita. Isso deixa a lente mais escura e por isso mais lenta, o que pode parecer ruim em Astrofotografia e, sim, é ruim mesmo. O problema é que muitas lentes, principalmente as mais baratas, como a 50mm F1.8 da Canon, não apresentam bons resultados na sua abertura máxima, gerando aberrações e coma. A minha 50mm F/1.8 só fica razoavelmente aceitável em aberturas acima de F/3.0, e só em F/4.0 a imagem fica perfeita. Já a Takumar 135mm não mostrou muita diferença ao se fechar o diafragma, o que é um bom sinal.

Na verdade, quanto menos você tiver que fechar o diafragma para se ter uma imagem perfeita, melhor é a lente para astrofotografia. Se a lente só apresenta uma boa imagem com aberturas abaixo de F/4.0 você precisa de tempos maiores de exposição e um melhor alinhamento eliminando uma das maiores vantagens das lentes.

A abertura em que a lente apresenta seus melhores resultados não costuma vir na especificação dela, normalmente este tipo de informação aparece em reviews destes equipamentos. Sempre que estiver interessado em uma lente procure por reviews dela antes de comprar. Prefira reviews de grandes sites especializados. Sites de blogueiros, como este aqui, podem ser enviesados pelo fato de que muitas pessoas, ao gastarem uma boa grana com equipamentos tendem a terem maiores dificuldades para aceitar que não compraram um produto bom, principalmente se foi algo caro em relação a seus rendimentos.

Uma boa lente pode ser mais cara do que um bom telescópio.

Algo que não se pode dizer sobre lentes é que elas sejam mais baratas do que telescópios. Um bom telescópio refrator apocromático de 80mm custa em média 800 dólares, uma Canon 135mm L F/2.0 custa mais de mil dólares. Então boas lentes novas não são baratas, são tão caras ou mesmo mais do que bons telescópios. Tem as vantagens de serem mais rápidas e mais leves e terem maior campo. Mas tem menor aumento e não se pode usá-las para observações (embora acho que existam adaptadores que permitam isso). São vários fatores que se devem pesar antes de se escolher uma lente. Para ver planetas e traços da superfície Lunar, por exemplo, vocês podem descartá-las por completo.

Lentes antigas podem ser uma boa opção, mas exigem ampla pesquisa

Apesar de lentes serem caras, uma excelente opção para baratear seus custos é adquirir uma lente antiga. Existem inúmeros modelos de lentes fabricadas há vinte ou trinta anos atrás, que, com os adaptadores certos podem encaixar em sua câmera. Se a ótica não tiver marcas, riscos ou fungos elas serão quase tão boas quanto as lentes novas. Muitos fotógrafos cuidam muito bem de suas lentes, permitindo que elas, apesar de terem muitas décadas de idade, estejam em perfeitas condições. No mercado livre é possível encontrar boas lentes antigas por preços entre 300 e 700 reais. No Ebay é possível encontrar boas opões entre 50 e 500 dólares.

Comprar coisas usadas e antigas sempre trará riscos. Pode ser uma economia enorme ou dinheiro jogado fora. Antes de se comprar uma lente antiga, faça toda a pesquisa possível, mostre o link dela para todos os amigos que conhece que entendam do assunto e pergunte se eles sabem algo sobre o modelo e qual a opinião que têm sobre o assunto, também pesquise e consulte o vendedor sobre qual adaptador será necessário para a sua câmera. Pergunte também se o adaptador necessário terá que possuir algum elemento ótico. Caso a resposta seja sim, fuja desta lente. Estes adaptadores são produzidos por empresas genéricas, não pelo fabricante da lente e normalmente trazer resultados insatisfatórios.

Ao se pesquisar sobre lentes antigas você vai descobrir coisa engraçadas, como por exemplo: Lentes antigas da Canon não se adaptam bem às câmeras atuais da Canon, mas as lentes da Nikon sim, que não se adaptam bem a lentes da Nikon. Em geral o grande problema é o foco no infinito, necessário para astrofotografia, que muitas vezes fica para dentro da câmera nova do fabricante, algo que só pode ser resolvido com adaptadores óticos, que como dito no parágrafo anterior, não são recomendados.

Adquirir lentes para astrofotografia não é fácil. Acho até mais complicado do que escolher um bom telescópio, por isso, se você está procurando uma luz sobre o assunto, espero que este post tenha ajudado um pouco.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Noite de Raios e Nebulosas em Brasília

Clique na imagem para ver maior

Ontem foi uma noite rara, em que pela primeira vez eu pude fotografar raios no mesmo momento em que fotografava nebulosas, algo que eu nunca imaginei que aconteceria. O céu estava limpo sobre o meu apartamento, mas a uns vinte quilómetros dali, na direção de Sobradinho, uma tempestade de raios castigava o lugar.

Foi aí que aconteceu o improvável. Enquanto a CCD trabalhava sobre a montagem CG-5GT, com a lente Takumar 135mm, deixei a Canon T2i sobre o muro da varanda fotografando a tempestade, no horizonte. Quando percebi que os raios estavam cessando resolvi dar uma olhada nas imagens e descobri algumas boas fotos, como a que vocês veem no final deste post.

Quanto a CCD, a Atik 314L+, ela estava apontada para a Nebulosa do Cone, tirando vários frames em H-Alpha, OIII e SII. Infelizmente, quando ela captava o nono frame com o filtro de enxofre (SII), o céu nublou completamente. Pra vocês terem idéia, eu tinha feito 30 frames em H-alpha e 20 em OIII. Apesar disso acho que o resultado final da imagem ficou bem interessante, mesmo com problemas de alinhamento e foco.

Deixo aqui também uma foto que acho que vocês vão achar bem legal. Sou eu com o "telescópio" e câmera usados para fazer a imagem acima, uma lente Pentax Takumar 135mm e a Atik 314L+. Reparem como o conjunto é extremamente compacto e também leve. Muitos astrofotógrafos ao verem a imagem acima devem pensar que ela foi feita com um grande telescópio e ficariam impressionados ao verem que ela saiu do minúsculo conjunto que carrego na foto abaixo.

Eu com meu telescópio, câmera e buscadora.
Deixo claro de que não trata-se de um conjunto barato. A câmera custou 1550 dólares. A lente foi 500 reais somente por que é uma lente usada antiga comprada no mercado livre, se fosse nova seria várias vezes mais cara. E os filtros usados para produzir a imagem somaram cerca de 500 dólares, o que também não é nada barato. Mas devo mencionar que de forma alguma foi mais caro do que um equipamento maior com a mesma capacidade, já que o minúsculo aqui é o telescópio, que foi trocado por uma lente. É claro que um telescópio daria mais aumento e mostraria mais detalhes, mas o campo seria uma fração do que aparece na imagem acima. 

Notem também que um laser pointer está como buscadora. Esta solução, diga-se de passagem, mostrou-se maravilhosa para conseguir colocar os objetos no campo da câmera. Antes de usar este recurso, eu levei mais de uma hora para conseguir achar a Nebulosa da Roseta em outro dia. Também reparem que o laser pointer está preso ao dovetail por fita durex. Quem me conhece já está acostumado a saber que toda a minha engenharia se limita ao uso de fita, superBonder ou durepox, rsss.


Enquanto eu me ocupava com a CCD, a Canon estava largada no alpendre fotografando essa bela tempestade.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Nebulosa Cabeça do Cavalo - Finalmente o Hubble Palette


Acabou o meu período fotográfico na Chácara. Infelizmente as nuvens só me permitiram uma única noite boa, com uma única imagem, a da Nebulosa Cabeça do Cavalo feita com filtros de banda estreita. Essa única foto, apenas a segunda que fiz com a Atik 314L+ salvou a temporada. E olha que eu errei feio o foco no filtro OIII.

E como não tinha muito o que fazer, pude aproveitar este tempo para aprender algumas coisas e chegar ao melhor processamento que a captação me permitiria. Deixo aqui a imagem definitiva da Nebulosa Cabeça do Cavalo, em Hubble Palette. Essa é a terceira versão oficial da imagem. A primeira eu havia colocado aqui. Era uma imagem em banda estreita, mas não poderia ser considerada em Hubble Palette, pois o H-Alpha estava em vermelho e o normal, ou correto, em Hubble Palette, é deixar o H-Alpha em verde. Esta imagem também havia tido seus canais RGB empilhados pelo simples Fitswork. Agora estou empilhando com o PhotoShop, programa muito mais.

O mais complicado em se produzir uma imagem em Hubble Palette foi tirar o excesso do H-Alpha, que domina muito a imagem, que num primeiro momento fica toda verde. Os procedimentos para tirar esse excesso de verde compõem quase todo o pós processamento de uma imagem com essa paleta.

Gostei muito dessa nova imagem, pois ela mostra claramente as diferenças de composição entre as Nebulosas. A Nebulosa Cabeça do Cavalo, pelas imagem feitas em preto e branco, mostrou não ter praticamente nenhum oxigênio, o que aqui está bem mais visível.



domingo, 6 de janeiro de 2013

Primeira imagem colorida com a Atik 314L+


Depois de três dias com céu totalmente nublado na chácara, o tempo inesperadamente melhorou e finalmente puder ter uma noite produtiva aqui. Resolvi fotografar a nebulosa Cabeça do Cavalo. Sim, é uma nebulosa muito manjada, mas eu queria me dedicar somente ao aperfeiçoamento da técnica fotográfica.

Eu queria produzir minha primeira imagem colorida com a Atik 314L+, para isso usei os filtros de cores mapeadas, H-Alpha, OIII e SII. Escolhi esses filtros em vez dos RGB por que haviam várias luzes acessas na chácara no momento da captação. A piscina, por exemplo, estava sendo usada, com todas as luzes em volta acessas.

Mas é impressionante como esses filtros de banda estreita cortam a luz e essa foi mais uma coisa boa que vi no uso deles. Antigamente era comum eu esperar todo mundo dormir e apagarem as luzes da varanda para começar a fotografar. Então era frequente eu só começar a captar imagens a sério por volta da meia noite. Mas ontem, assim que o telescópio estava razoavelmente alinhado, pude começar a captar light frames.

A imagem que vocês veem acima está cheia de erros. Eu não tenho o photoshop aqui, por isso não pude usar as cores seletivas para criar uma imagem com cara de Hubble Palette. Eu também preferi deixar o H-Alpha como canal vermelho e em Hubble Palette o H-Alpha costuma ser o verde. Para juntar os canais usei o Fitswork, mas estou estudando para ver se consigo usar o Gimp para essas funções. Mas o maior erro que cometi, para variar, foi não ter me atentado ao foco na hora de captar com o filtro OIII.

No fim, para uma primeira imagem colorida com a CCD, até que está muito bom. Eu sofri com o alinhamento. Sonhava em frames de 3 minutos pelo menos, mas só consegui um minuto e meio. Eu não devo voltar para a nebulosa Cabeça de Cavalo por um tempo (não para captação). Se o tempo melhorar, acho que vou tentar a Roseta, Cone ou mesmo Eta Carinae se o céu se manter bom após a meia noite.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A ocultação de Júpiter pelo Travelscope 70mm


Hoje ocorreu a fantástica ocultação de Júpiter pela Lua, um de meus eventos astronómicos preferidos. Eu havia dito que ia tentar fotografar, mas aconteceu que a CG-5GT não estava comigo. Não por que ela foi vendida, já que eu cheguei a anunciar em algumas redes sociais que a montagem estava a venda, mas por que ela já foi enviada para o local onde tentarei fazer algumas fotos de DSOs em janeiro.

Sem a CG-5GT seria impossível eu usar o ED de 102mm para fotografar a ocultação de Júpiter, pois a única montagem que ficou disponível foi a EQ1, que não aguenta o peso do ED (ele é bem mais pesado do que parece). A solução então foi colocar o telescópio guia do ED sobre a EQ-1, um Celestron Travescope de 70mm de abertura e apenas 400mm de distância focal. Não é o telescópio ideal, mas era o que eu tinha em mãos.

É uma foto sem grandes atrativos, mas que mostra que dá para fazer coisas legais mesmo com um equipamento mais simples. eu usei a câmera DBK41AU02.AS para fotografar, mas também poderia ter usado a Canon T2i com o EOS Movie Recorder que provavelmente me dariam resultados semelhantes.Optei pela Imaging Source por ser muito mais leve. Infelizmente as nuvens (e a janta) não me deixaram registrar o evento inteiro.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Nebulosa Cabeça de Cavalo da varanda do apartamento: A Atik 314L+ mostra a sua força



Sim, era para eu estar de férias, mas bastou eu empacotar minhas coisas no domingo à noite que o céu resolveu abrir completamente aqui em Brasília. Eu andava meio inconformado com isso, mas ontem, mesmo chegando em casa depois das onze da noite por causa de um curso, resolvi parar de me lamentar, desempacotar tudo e tentar umas fotos. Dessa vez não foi com a Canon T2i, mas com a Atik 314L+, que um amigo meu trouxe dos Estados Unidos e pela qual eu tenho enorme expectativa para 2013. Eu também usei um filtro h-alpha de 7.5nm, o que teoricamente, aliado a uma CCD monocromática, daria ótimos resultados.

E realmente o setup não decepcionou, pelo contrário, superou todas as minhas expectativas. Bastaram apenas 60 segundos de exposição com a lente de 135mm para que eu conseguisse uma imagem bem definida da nebulosa cabeça do cavalo. Fiz 42 frames e empilhei tudo no DSS. Não fiz nem darks nem flats frames. Já escutei que a Atik 314L+ é tão boa que muitas vezes isso não é preciso. E como disse no post anterior, uma lente de relação abertura distância focal F2.5 absorve luz 8 vezes mais rápido do que meu telescópio F7.1. Essa imagem, com um filtro de banda estreita, com frames de apenas um minuto de duração, comprova isso. 

Para juntar a Atik 314L a uma lente de câmeras Canon, estou usando um adaptador da Geoptik. Ele custou 120 Euros e mais 40 de frete. Para minha infelicidade, foi entregue pela UPS, que arranca até as nossas calças de tanta taxa que cobra na hora de entregar a encomenda. Apesar disso, estou muito satisfeito com esse adaptador, pois ele cumpre muito bem a função, conecta o setup ao tripé e, o melhor de tudo, permite rosquear um filtro astronómico na lente, que pode ser trocado sem se retirar a câmera, somente a lente sai. Acho que valeu muito a pena o investimento.

Também tenho que dizer que adorei utilizar a Atik 314L+. O programa de captura Artemis, que vem com o CD da 314L é simples e muito intuitivo. Configurei o programa para manter a câmera na temperatura de 5 graus e ela manteve-se nessa temperatura a noite toda, o que é fabuloso.

Antes de dormir, também fiz algumas imagens da Nebulosa da Rosetta. Esta foi um pouco mais difícil por que o céu começou a nublar, e isso sempre provoca uma queda de qualidade nas imagens, mesmo assim a imagem ficou interessante e merece ser publicada.


Eu sentia que estava devendo uma imagem realmente boa, mesmo daqui do meu apartamento. E fechar o ano com essa imagem da Nebulosa Cabeça do Cavalo mostra aos leitores deste blog que 2013 promete. Mas para frente vou começar a usar os filtros coloridos e os outros de banda estreita e tenho certeza que muita coisa legal vai aparecer por aqui.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Testando a lente Takumar de 135mm e Férias!


Mais uma noite que vou para fora brigar com as nuvens. Fiz 42 frames da Espada e do Cinturão de Orion (muitos com nuvens), mas a maior perda foi não ter conseguido fazer os flat frames como eu gostaria, pois o céu fechou pra valer depois. Também não pude fazer imagens com exposição menor, para não estourar o núcleo da nebulosa de Orion. Mas o objetivo mesmo era testar uma lente antiga comprada no mercado livre. 

Como vocês sabem, eu devolvi a lente 135mm da Nikkor ao Sandro Rosa. Eu gostei muito da experiência de fotografar o céu com uma lente assim usando a Canon T2i sobre a EQ1. Esse é um setup leve e portátil, excelente para viagem, ou dias de preguiça (principalmente quando o céu não está muito confiável).

Adquirir uma lente antiga é uma boa opção para astrofotografia. Elas custam de cinco a dez vezes menos do que uma lente nova. É claro que elas não tem foco automático e nem estabilizador de imagens, mas isso são duas coisas que você definitivamente não vai usar em astrofotografia e que consegue viver sem se ainda quiser usar a lente para fotos normais.

Uma qualidade que me agradou muito na Takumar foi que, mesmo com o diafragma aberto no máximo (F2.5), as estrelas das bordas ficaram redondinhas. Eu senti uma leve aberração cromática na imagem. mas apesar disso, acho que vou brincar muito com esta lente.

A imagem acima foi feita no Águas Claras, não vou nem reclamar da poluição luminosa, o que tem atrapalhado mesmo são as nuvens. Muitos dos frames utilizados nesta imagem continham pedaços de nuvens, mas o pior mesmo foi eu não poder fazer os flat frames do jeito que queria (tirando completamente o foco da lente a apontando para uma área próxima sem estrelas brilhantes, o que é muito eficiente) por isso a vinhetagem na imagem foi enorme. Repare que no meio a imagem acima está um pouco avermelhado, pois eu não consegui tirar toda a vinhetagem sem agredir a nebulosa, algo que não queria de forma alguma.


Eu também estava doido para usar a Atik 314L+ e até me arrependendo de não ter feito o teste da Takumar 135mm direto com ela, pois quando quis ligar a câmera o céu estava completamente tomado por nuvens. Mesmo assim, resolvi ligar a Atik, sobre um tripé de máquina fotográfica e fiz uma imagem da Torre de TV Digital de Brasília, que é bem visível do meu apartamento, embora distante.

A ideia era somente verificar se a câmera estava funcionando bem, afinal ela veio na mala de um amigo dos EUA. Felizmente pude comprovar que está tudo em perfeito estado e fiz a primeira imagem da Atik 314L+, que não foi do céu, mas da Torre de TV digital de Brasília.

A primeira imagem feita com a Atik 314L+

A Atik sobre um tripé de câmera fotográfica com a lente Takumar 135mm F2.5
Eu tenho grande expectativas com o uso da Atik 314L+ mais essa lente de 135mm. Vale lembrar que uma lente F2.5 absorve luz 8 vezes mais rápido do que o meu telescópio F7.1 ((7.1*7.1=50.41)/(2.5*2.5=6.25)=8.06). É claro que com menos aumento, mas maior campo. Como eu consigo sem tanto esforço 1 minuto de exposição com a lente 135mm sobre a EQ1, isso ia significar a mesma coisa que 8 minutos de exposição com o telescópio F7.1, o que tornaria possível fotos muito interessantes com esta CCD sobre a EQ-1.

É isso aí pessoa, considero o Blog agora como em Férias. Pretendo voltar destas férias a partir do meio de janeiro, se tudo der certo com algumas imagens bem interessantes. Torçam para que as nuvens de janeiro me dêem uma chance (PS: Se eu fotografar a ocultação de Júpiter em 25/12, haverá um post extra).

Um grande abraço a todos e boas festas!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Agora a brincadeira ficou séria: chegou a Atik 314L+

A Atik 314L+ conectada ao meu setup

Ontem um amigo que estava voltou de viajem aos Estados Unidos me entregou a encomenda mais esperada dos últimos meses: uma câmera Atik 314L+. Para quem não conhece trata-se de uma excelente câmera CCD monocromática, feita por uma das melhores fabricantes da área.

Eu estou absolutamente otimista com esta nova câmera. Mas posso dizer que a escolha pela Atik 314L+ não foi fácil. Primeiro começou com uma quase desistência de se fotografar com CCD, como descrevi num post logo após o EBA. Eu cheguei a pensar que fotografar com CCD deve ser muito complicado e, principalmente, demorado, e estava pensando em me concentrar apenas em fotografia de DSLR, até que pensei: "Eu estou aqui é por prazer! Pouco me importa se seja mais complexo ou demorado, pra mim tudo isso é diversão." E decidi que iria para o CCD, principalmente pelo sonho de se produzir imagens em banda estreita. Além disso, o uso de filtros de banda estreita numa câmera monocromática torna possível a captação de imagens muito boas mesmo através da poluição luminosa presente sobre o meu apartamento.

Na hora de comprar a câmera, aconteceu uma surpresa. eu sempre falei para todo mundo que quando comprasse uma CCD, iria comprar uma com o sensor KAF8300, da Kodak, pelo grande custo benefício, já que é um sensor grande. Mas na hora de pesquisar, e pesquisei muito, percebi que o tamanho do sensor não é a única coisa que define a qualidade de uma CCD. O tamanho dos pixels, a sensibilidade, e o sistema de resfriamento fazem muita diferença.

Mas eu também queria uma câmera leve e fiquei interessado pelos modelos compactos da empresa Atik, que é muito respeitada. Fiquei de olho nos modelos 314E, 320E e 314L+. A 314E, com o sensor ICX205AL (o mesmo da Imaging Source DMK41AU04.AS) e resolução de 1360 por 1024 era a mais barata delas, a 320E, que utiliza o sensor ICX274 era a que tinha a maior resolução, 1620 por 1220 e me pareceu a opção mais interessante num primeiro momento. A 314L+ tinha a mesma resolução da 314E e era mais cara do que a 320E, mas comecei a ler vários fóruns da estronomia e, principalmente, procurar por exemplos de imagens feitas com esta câmera e não demorei a perceber por que, apesar dela ser a mais cara das três, era também a mais popular.

A 314L+, tem a mesma resolução da 314E, mas seu sensor é até maior do que o da 320E, por que seus píxels são bem maiores. Os píxels da 314L+ medem 6.45 μm, contra 4,4 μm da 320E. eles também são maiores do que os das câmeras com sensor KAF8300, que possuem píxels de 5.4μm. Píxels maiores se traduzem em maior sensibilidade e menos ruído. Lí vários fóruns que disseram que a única vantagem da Atik 383+, com sensor KAF8300, em relação a 314L+ é o maior campo. A atik 314L+ também se destaca por seu incrível peso, ou melhor, pela falta dele, pesando apenas 400g, contra 750g da Atik 383L+.

No fim, quase que ainda fui seduzido por uma promoção da Orion, que estava oferecendo a Starshoot Deep Sky III, com o mesmo sensor da 314L+, por meros mil dólares, contra 1550 dolares da Atik 314L+, e ainda mais, a Orion dava de brinde uma roda de filtros e um conjunto de filtros LRGB. Apesar de já ter os dois acessórios, eu poderia vendê-los facilmente depois, conseguindo até uns mil reais pelos dois juntos. Era uma oferta realmente sedutora.

Mas mais uma vez caí de cabeça na pesquisa, consultei amigos e vi que a 314L+ seria a melhor opção. A Orion, deve ser uma câmera boa. Acredito até que esta promoção tão agressiva seja para que mais pessoas comprem a Starshoot III e divulguem fotos feitas com ela, pois há muito pouco material desta câmera divulgado na internet, mas eu pude tomar conhecimento que o sistema de resfriamento da câmera da Orion não é tão eficiente quanto o da 314L+, que mantém a temperatura da câmera constante durante toda a noite.

A Starshoot III também tem um corpo exageradamente grande. A Orion quis aproveitar o mesmo corpo da Starshoot Pro, mas está última câmera tem um sensor enorme, enquanto o da Starshoot III é muito menor. O resultado é que a Starshoot 3 pesa o dobro da Atik 314L+ e tem um corpo muito largo que acabaria batendo facilmente do tripé (um amigo que possuí a Starshoot Pro enfrenta constantemente este problema). Resolvi então optar pela câmera mais cara, mas mais leve e compacta, acreditando que não irei me arrepender da escolha.


Eu talvez só consiga testar a 314L+ com o telescópio em fevereiro, mas estou com um adaptador que tornará possível usá-la nas férias, com a EQ-1 e uma lente da Canon. Vai ser muito bom para eu aprender a usá-la. A ideia é chegar no EBA 2013 íntimo desta câmera.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Constelação de Órion do Águas Claras

Clique na imagem para ver maior

Ontem o céu abriu um pouco aqui no Águas Claras. Não foi um céu perfeito, estava com muitas nuvens, mas não estava embaçado. Onde não havia nuvens a imagem estava perfeita.

Era uma boa noite para levar o telescópio para a varanda, mas eu estava cançado demais devido ao trabalho e por estar fazendo um curso até dez da noite e ter que voltar de ônibus. Então resolvi optar pelo setup portátil, com a EQ-1. Foi uma pena que o adaptador M42 que adquiri para usar numa lente de 135mm da Takumar que chegou recentemente, ainda está em transito para cá. E como eu já devolvi a lente de 135mm do Sandro Rosa, a única que eu tinha era a de 50mm F1.8, que tem lá suas deficiências e, pior, com um campo muito grande nunca é fácil de se conseguir imagens limpas num céu com muitas nuvens.

Apesar de tudo, o que eu queria mesmo era brincar e não estava muito preocupado com qualidade, isso eu deixo para quando tenho um céu escuro e uma noite inteira para fotografar, não quando começo a meia noite e meia, depois de um dia de ralação no trabalho, do meio do Distrito Federal.

Eu devo ter feito uns 70 light frames, mas a maioria perdi por causa de nuvens passando em frente a câmera, na verdade até mesmo alguns dos light frames utilizados no empilhamento também tinham alguns vestígios de nuvens, mas eu tive que usá-los. Para diminuir a vinhetagem utilizei alguns flat frames. Não ficou perfeito, mas ficou muito melhor do que o empilhamento sem os flats (eu fiz o teste).

Dá para melhorar muito esse resultado, mesmo aqui do Águas Claras e com esse mesmo equipamento. Basta um céu realmente limpo e que eu tenha mais tempo de exposição. De qualquer forma em janeiro eu devo ir para um lugar escuro e se conseguir pelo menos um dia de céu limpo, tenho certeza que posso conseguir algo bem legal com esse equipamento (e a 135mm já estará operacional).

Abaixo um crop da imagem acima (que também é um crop com 60% da imagem original). O resultado até que me deixou muito feliz para um lente de 50mm.
Crop da região do cinturão e da espada.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"Ocultação" de Júpiter pela Lua



Não é comum eu poder estar com o telescópio a postos quando tem algo interessante no céu. Ainda mais nesta época do ano, mais ainda no meio de semana. Mas hoje decidi acompanhar a suposta ocultação de Júpiter pela Lua. Bem, acho que aqui em Brasília a Lua não chegou a ocultar totalmente o planeta. A gif animada abaixo, feita a partir do Stellarium, mostra como Júpiter passou pela Lua no dia de hoje para quem estava em Brasília. O planeta chegou a ficar bem perto, mas não foi ocultado. Já quem mora no estado de São Paulo, viu Júpiter ser totalmente encoberto.

A imagem acima foi feita com uma câmera Imaging Source DMK21AU04.AS, emprestada de um amigo do CASB, colocada no meu ED102mmF7, que por sua vez estava sobre a montagem CG-5GT. Também foi usada a Shorty 2X Barlow. O céu estava bem embaçado pelas nuvens, por isso a foto me surpreendeu. Se olhar com mais atenção na imagem da Júpiter você vai perceber, que a sombra de uma das suas Luas estava cruzando o disco do planeta na hora foto. Trata-se de Ganimedes.


Como a ocultação foi vista a partir de Brasília