terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Grande Nuvem de Magalhães - Aprimorando a Técnica de Fotografia em Tripé Fixo

A Grande Nuvem de Magalhães - 90 frames de 8 segundos em ISO 6400. Lente de 50mm - Canon T2i modificada e tripé fixo.

A fotografia em Tripé fixo é uma das técnicas mais interessantes para quem está começando na Astrofotografia. É de longe a forma mais simples, barata e portátil de se fotografar o céu. Para praticá-la basta uma câmera DSLR e um tripé de maquina fotográfica comum. É uma solução para quem tem pouco dinheiro em caixa e sabe que se tentar comprar câmera, telescópio e montagem neste momento, vai ficar endividado ou terá que sacrificar a qualidade dos equipamentos, optando por modelos mais baratos. E isso é Algo que quase sempre acaba em arrependimento.

Com cerca de mil e quinhentos reais numa câmera, quinhentos numa lente de 50mm F1.8 e mais uns quinhentos num tripé fotográfico de qualidade e um céu com pouco poluição luminosa você já está apto a produzir imagens como a que vemos acima, da Grande Nuvem de Magalhães, satélite da Via Láctea, a nossa galáxia.

A imagem acima foi produzida ano passado, numa rápida viagem a uma chácara, em Uberlândia. Com o uso de tripé fixo, temos enormes limitações de tempo de exposição por frame, antes que as estrelas produzam rastros, por isso os lightframes usados para a imagem acima tinham apenas 8 segundos de exposição cada. A Grande Nuvem de Magalhães ainda nos ajuda por estar mais próximo do polo. caso estivesse próximo do Zoodiaco, não teríamos mais do que cinco segundos de exposição por frame sem que as estrelas produzissem rastros.

Para compensar o baixo tempo de exposição por frame, temos que apelar para outros recursos: O principal é aumentar o ISO. Os frames desta imagem foram produzidos com ISO 6400, bastante elevado, admito. Para compensar o ruído que um ISO tão elevado produz, temos que fazer muitos e muitos frames. Quanto mais light frames você integrar, melhor o resultado final de sua imagem. Mas vale a pena. Uma frame de 8 segundos em ISO 6400 tem a claridade de uma frame de um minuto em ISO 800.

Outra opção foi abrir mais o diafragma da lente, o problema é que a degradação e as aberrações causadas por uma lente muito aberta não podem ser resolvidas com a aquisição de mais frames. A lente de 50mm, é extremamente ruim para astrofotografia em sua abertura máxima (F1.8), enquanto que em F4.0 a imagem fica quase perfeita. Quando eu tenho a disposição um bom acompanhamento, que me permita frames de até 4 minutos, eu fotografo com o diafragma em F4.0, mas sem acompanhamento eu abro a lente até o limite de uma imagem aceitável. Geralmente deixo a lente de 50mm aberta entre F3.2 e F2.8. Nessa configuração, durante o processamento é necessário um filtro de correção de distorção de lente, diminuindo o coma da imagem. Este processo gera uma pequena perda de campo, mas vale a pena. Uma lente em F2.8 é cerca de duas vezes mais rápida do que uma lente em F4.0.

O resultado é que um frame de 8 segundos em ISO 6400 com a lente em F2.8 equivale a frames de 2 minutos em ISO 800 e com a lente em F4. Sim, com muito mais ruído é claro, mas se nesses dois minutos você faz 16 frames em ISO 6400 e os integra, o resultado é uma imagem com quase, ou até mesmo menos ruído do que um frame único em ISO 800.



Detalhe da imagem do início do post.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Astrofotografia com EQ-1 e lente 75-300mm zoom.

  Ewertonn Dourado mostra o que dá pra fazer com esse setup barato e portátil.


A lente usada pelo Ewertonn custa pouco mais de 600 reais em sites como o Mercado Livre.

Antes de começar este post, devo confessar: nunca simpatizei com as lentes zoom econômicas, como os modelos 18-200mm, 18-135mm ou a 75-300mm tema deste post, mas estas lentes atraem muitos fotógrafos pelo fato de que são muito baratas em comparação ao modelos da linha L. Por exemplo, a lente Canon EF 75-300mm F4.0-5.6 III custa menos de 200 dólares no Estados Unidos, enquanto para adquirir uma Canon EF 70-300mm F/4-5.6L IS USM você terá que desembolsar seis vezes essa quantia.

A diferença mais visível da 75-300mm para sua irmã 70-300 da série L é o estabilizador de imagem (IS), mas não é só este recurso, que é inútil em Astrofotografia de céu profundo, que faz o modelo L custar mais de mil e duzentos dólares. 19 elementos ópticos do modelo L contra 13 da 75-300mm certamente garantem uma imagem superior através da lente mais cara.

Pra ser mais honesto, eu também não indicaria sequer esse modelo L para Astrofotografia de céu profundo. Lentes com zoom geralmente perdem muita qualidade para manterem o recurso de aumento e Astrofotografia é provavelmente o tipo de fotografia que mais exige da óptica de seu equipamento. Por isso eu sempre prefiro lentes prime, ou fixas, como a barata 50mm F1.8 ou a cara, mas esmerada 200mm F2.8.

Mas para minha surpresas, encontrei o astrofotógrafo Ewertonn Dourado, que está fazendo um trabalho muito interessante com uma lente Canon EF 75-300mm F4.0-5.6 III, a lente zoom econômica. Mais ainda, com uma montagem EQ1 e uma DSLR de entrada ele está conseguindo fotos muito boas com um setup bastante barato para os padrões de equipamentos astrofotográficos. É um exemplo que nesta época de dólar alto pode ser um grande alívio para aqueles que querem começar nessa atividade e não possuem muita munição no cartão de crédito.

Veja abaixo algumas fotos feitas com a lente 75-300mm, EQ1 Celestron Astromaster motorizada e câmera Canon T3 não modificada feitas pelo Ewertonn. Todas as imagens foram capturadas com a lente em sua distância focal máxima (300mm) e com a máxima abertura possível nesta distância (F5.6).

Galáxia de Andrômeda - M31 - Capturada com 428 frames e tempo total de captura de quase 2 horas.

Nebulosa Barnard 33 - Capturada com 176 frames de 30 segundos em ISO 1600. Exposição total de 1hora e 33minutos
Galáxia do Escultor - Capturada com 131 frames de 15 segundos em ISO 1600 .



Repare que o Ewertonn fez as imagem acima com exposições curtas, mas com enorme quantidade de frames. Assim ele conseguiu superar muito as limitações de seu setup. E a lente de 75-300 mostrou algumas aberrações, mas nada que impeça de se começar em astrofotografia de forma divertida. As imagens possuem um razoável nível de recorte (acredito que cerca de metade da área das imagens originais foi retirada), mas isso é algo que eu também faço muito quando estou fotografando objetos menores do que o campo que o meu setup é capaz de capturar. Contando as bordas da imagem o Ewertonn consegue também tirar muito das aberrações da lente, que geralmente são piores próximo a borda. Fiquei admirado principalmente pelo fato de que em todas as fotos feitas por ele com a lente em 300mm de distância focal, ela ficou totalmente aberta em F5.6.

Esta setup: lente econômica, EQ-1 motorizada e câmera DSLR T3 não modificada é provavelmente o setup mais barato para se praticar astrofotografia de céu profundo com razoável qualidade. Sem contar que também possui excelente portabilidade. A Lente 75-300 é vendida por cerca de 600 a 700 reais no mercado livre, enquanto a Canon T3 nova está na faixa de 1400 reais. A montagem EQ-1 pode ser comprada separadamente, mas é mais fácil encontrá-la junto com telescópios. Todo esse equipamento junto custará algo em torno de três mil reais se comprado novo, enquanto um setup formado por uma EQ5 com guiagem e um bom telescópio apocromático, mais uma DSLR modificada, ficaria hoje próximo dos dez mil reais e seria um conjunto muito mais pesado, embora, apresentasse resultados bastante superiores, é claro. 

O Ewertonn começou há pouco tempo a usar esta lente. Por isso, tenho certeza que em breve ele irá nos mostrar novas imagens, para vermos do que uma lente de 75-300mm é capaz.

Vale lembrar que ele esta usando o motor para EQ-1 com controle remoto e bolsa para 4 pilhas grandes. Esse motor é muito superior àquele menor, em que o conjunto todo fica na mesmo corpo e é necessário ficar regulando a velocidade da montagem, o que dá um certo trabalho. Este motor com controle remoto pode ser encontrada no Armazém do telescópio ou no Astroshop.

O Ewertoon usa uma EQ-1 do tipo Astromaster, da Celestron, que é compatível com os motores para EQ-1 padrão, como as da Skywatcher, Orion, e outras da própria Celestron