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domingo, 18 de fevereiro de 2018

O Tripleto de Leão, do Águas Claras

Tripleto do Leão - Registrado com refrator de 102mm e Câmera QHY163m.
Mesmo sob a enorme poluição luminosa de Brasília, eu sigo me aventurando fora das fronteiras da Via Láctea. O alvo agora foi o Conjunto de Galáxias Tripleto do Leão, registrado na madrugada de sexta para sábado, da varanda do meu apartamento, em Águas Claras.

O Tripleto do Leão é formado pelas galáxias M65 (abaixo, à esquerda), M66 (acima, à esquerda) e NGC 3628 (à direita). Estas três grandes galáxias estão a cerca de 35 milhões de anos-luz da Terra. As galáxias estão na direção da constelação que dá nome ao grupo, aparecendo no céu pouco depois do início da noite.

Não gostei tanto do fundo, com algumas manchas de sujeira impactando a imagem, mas os detalhes e as cores dos objetos ficaram muito bons. Eu acho esse conjunto belíssimo e existe enorme possibilidade que eu volte a ele quando estiver num céu escuro, se tiver a oportunidade, é claro.

Para esta fotografia, usei os filtros LRGB da Optolong e também um filtro CLS à frente da roda de filtros. Como é um filtro de 1,25 polegadas, acabei tendo muitos problemas com vinhetagem. Para continuar usando um filtro CLS, vou ter que trocar ele por um modelo de 2 polegadas ou passar a usar a ATIK314L, com um sensor menor. Ainda assim, sinto que posso evoluir muito com este tipo de fotografia da Varanda do Apartamento.

Foram 142 frames de um minuto, sendo 97 de Luminância e 15 para cada cor.
Telecópio: Refrator ED 102mm F7
Câmera: QHY163m
Montagem: Skywatche HEQ5.

Abaixo, vemos cada galáxia em detalhes:

Galáxia Espiral M65

Galáxia Espiral M66

NGC 3628 é conhecida como Galáxia do Hambúrguer

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Fotografando Galáxias da Varanda do Apartamento

Galáxias M96 e M95, capturadas com a câmera QHY163m, Telescópio Refrator 102mm e filtros LRGB Optolong



Fotografar galáxias da varanda do meu apartamento nunca foi algo que considerei como uma boa investida. Afinal, diferente de nebulosas de emissão, não há filtros que isolem bem a luz destes objetos da poluição luminosa de Brasília.

Mas nesta época do ano praticamente não há nebulosas de emissão visíveis da varanda do meu apartamento, apontada para o Leste e Norte. Sendo que neste momento as Nebulosas de emissão do início da noite estão todas a Oeste e as do meio da noite estão a Sul.

Mas sedento para sentar na varanda e viajar pelo céu, mesmo sabendo dos problemas com a poluição luminosa, resolvi arriscar, nem que fosse para brincar e registrar somente o borrão de algumas galáxias da varanda do meu apartamento. As escolhidas foram as galáxias M95 e M96, que caberiam juntas num único registro. Estas duas galáxias fazem parte do chamado Grupo M96 ou Grupo de Galáxias Leão I, que é um dos grupos do Super aglomerado de Virgem, do qual faz parte o Grupo Local, da Via Láctea.

A Galáxia principal do grupo M96 obviamente é aquela que dá nome ao Grupo. M96 aparece à esquerda na imagem. Ela é uma galáxia espiral a 38 milhões de anos-luz da Terra e tem magnitude aparente de 9,3. A vizinha, M95, está numa distância praticamente igual, mostrando como está ligada gravitacionalmente a M96, mas é um pouco mais pálida, com magnitude aparente 9,7.

A primeira limitação que enfrento ao registrar com filtros RGB da varanda do apartamento é no tempo de exposição por frame. Se eu tentar frames muito longos, o céu de fundo logo irá estourar a imagem. Os light frames da captura acima tem apenas um minuto de duração. Para tentar compensar frames mais curtos a solução é fazer muitos frames. A captação teve 141 frames somente de luminância, 15 frames com filtro vermelho, 20 frames com filtro verde e 14 com filtros azul.

O resultado final, embora humilde comparado com o que seria possível de uma área com céu escuro, até que me surpreendeu positivamente e me animou a seguir fazendo este tipo de registro e aperfeiçoar a técnica de captura.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Aplorando a Nebulosa Roseta

Nebulosa da Roseta, registrada na noite de sexta para sábado do último fim de semana, com telescópio refrator de 102mm F7 e Câmera QHY163mono.
A Nebulosa Roseta é uma nebulosa de emissão que surge nos céus brasileiros durante o verão, aparecendo logo depois da Constelação de Órion, na Constelação do Unicórnio. Esta nebulosa é bastante brilhante em fotografias, mas pouco visível ao telescópio, sendo muito mais fácil visualizar o aglomerado estelar aberto NGC 2244, que energiza a nebulosa a partir de seu centro, visível até mesmo com binóculos.

A grande nuvem de hidrogênio é mais formalmente reconhecida pelo sua catalogação do Caldwell, com o número 49, mas é mais informalmente reconhecida pela sua associação com o aglomerado estelar NGC 2244. Na verdade, vários objetos NGC compõem o que chamamos de Grande Complexo Nebular Roseta, formado pelos objetos NGC 2237, NGC 2238, NGC 2238 e NGC 2246.

A Nebulosa Roseta está a cerca de cinco mil anos-luz da Terra e possui cerca de 130 anos-luz de diâmetro. Para efeito de comparação, isso é aproximadamente o dobro do comprimento da Nebulosa da Lagoa, que está numa distância parecida, embora em posição oposta. Seu diâmetro aparente (o tamanho que vemos da Terra) é cerca de duas vezes o diâmetro aparente da Lua.

A Nebulosa Roseta esta localizada entre os chamados braço de Orion (onde está a Terra) e de Perseus, da Via Láctea. O Braço de Perseus é considerado o braço principal da Via Láctea. Ele sai do núcleo galáctico do outro lado da Via Láctea e passa atrás da Terra deste lado da Via Láctea. Estudos apontam que o Braço de Orion, onde Nebulosa de Orion e a própria Terra estão localizado, na verdade seria uma ramificação do braço de Perseus, mas isso ainda não está confirmado.


A cinco mil anos da Terra, a Nebulosa Roseta está entre os braços Galácticos de Orion e Perseus. O Sol está do lado interno do Braço de Orion, virado para o Braço de Sagitário (imagem:http://www.atlasoftheuniverse.com/).


Eu já visitei a Nebulosa da Roseta algumas vezes, nas mais variadas formas, com os mais variados tipos de equipamentos. É um objeto ótimo para se registrar tanto em Hubble Palette como em cores Naturais. A imagem do alto do post foi feita com a câmera QHY163 monocromática que comprei no primeiro semestre de 2017, mas acredito que só agora, em 2018, vou começar a aproveitar a câmera para valer. Para esta imagem, foram registrados 51 frames de 3 minutos com filtro H-alpha e mais 6 frames de três minutos para cada um dos outros dois filtros, Oxigênio III e Enxofre II.

Em todos os frames eu utilizei binning 2x2. Binning é quando você agrupa pixels da câmera para simular pixels maiores e assim conseguir mais sensibilidade. Isso incorre na diminuição da resolução. Mas para mim é a maior vantagem de se ter uma câmera com grande resolução e uma sensor maior. Com o Binning 2x2, eu faço os pixels da QHY163m ficarem grandes como o da Atik 314L+, minha outra câmera, mas ainda consigo quatro megapixels, uma resolução quatro vezes maior do que conseguiria com a Atik 314L+. Um bining 2x2 quer dizer que a cada 2 pixels horizontais e dois verticais, teremos um único pixel, mas duas vezes maior. Se o binning for 3x3, seriam 3 pixels verticais e 3 horizontais. Mas assim a resolução diminuiria em 9 vezes, o que tiraria muito da resolução da QHY163m, que na verdade, só permite binning de no máximo 2x2.

Este crop da imagem acima destaca os glóbulos de Bok da Nebulosa Roseta próximos a nuvens de poeira.

Esta "montanha" de hidrogênio é outra área de destaque da Nebulosa Roseta. Ela lembra montanhas que já vimos nas nebulosas América do Norte e Pelicano, entre outras.

 Como toda nebulosa de emissão, a Nebulosa Roseta em cores naturais é vermelha, apresentando traços em azul principalmente em seu interior. Sua forma, quando vista em cores naturais, reforça o apelido da nebulosa, que realmente lembra um grande botão de rosa flutuando por trás das estrelas. A Nebulosa está se espalhando do centro para fora, criando ondas de choque com as regiões em volta, que comprimem as nuvens de gás e geram formações como a da imagem logo acima. A Nebulosa Roseta tem um aspecto que lembra um pouco as nebulosas planetárias, mas sua extensão é muito maior do que o tamanho típico de uma planetária, sendo uma nebulosa com natureza semelhante a nebulosas como a da Lagoa (M8), por exemplo.

Nebulosa Roseta registrada em cores naturais. Composição de registro em H-alpha feito com câmera monocromática Atik 314L+ e cores capturadas com câmera DSLR Canon T2i, ambas com a lente Canon 200mm EF 2.8 USM II.

Registro feito somente com DSLR Canon T2i, lente de 200mm F2.8 e Ioptron Skytracker. Um setup bastante portátil que levei para chácara no Natal de 2016.




sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Os Girinos Cósmicos



Essa época do ano costuma ser uma das piores para fotografar, por isso, quando tempos uma noite aberta, ainda mais sem Lua, costuma ser uma oportunidade de ouro para capturarmos nebulosas que há muito tempo queremos registrar e as nuvens sempre atrapalham. Mas também pode ser uma época interessante para descobrirmos novos objetos no céu, ou mesmo, como no caso da imagem deste post, descobrir que é possível registrar nebulosas que imaginávamos estarem além do nosso alcance.

Na noite do feriado de 12 de outubro, eu percebi que poderia apontar meu telescópio, mesmo da varanda do meu apartamento, para algumas nebulosas interessantes no norte. O alvo que me parecia mais interessante era a nebulosa Flaming Star, catalogada como IC405.
Eu já tinha apontando o telescópio para Flaming Star quando notei que bem ao lado daquela nebulosa estava um dos objetos que eu acho mais interessantes no céu e que eu acreditava não ser possível fotografar do Brasil, muito menos de meu apartamento. 

Trata-se da Nebulosa do Girinos, catalogada como IC410. Acho que o nome não é muito popular no Brasil. Parece meio sem glamour, eu acredito, mas em inglês ela é conhecida como Tadpole Nebula, cuja tradução é girino. Acho que outra opção que teríamos é chama-lás de Nebulosa dos Espermatozóides. O problema é que daí não demorariam a encurtar o nome da nebulosa, que logo viraria Nebulosa do Esperma. Talvez seja melhor deixar como dos Girinos mesmo.

Apesar do céu estar bem aberto nos dias do registro, as condições estavam longe de serem as ideais. Devido à seca pela qual Brasília está passando, havia muita poeira e fumaça na atmosfera e isso acaba espalhando ainda mais a intensa poluição luminosa que enfrento da varanda de meu apartamento. Mais uma vez o sensor maior da QHY163m conversou com dificuldades com a poluição luminosa da varanda do meu apartamento e eu vejo que esta câmera é mais adequada para ser usada durante os encontros em fazendas, enquanto a Atik314L+  parece melhor para o apartamento.

De qualquer forma, capturar IC410 foi uma grande alegria. Mesmo com os defeitos da imagem, eu não lembro de outro astrofotógrafo brasileiro ter feito esta captura, o que é um grande orgulho.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Comparando a QHY163m com a Atik314L+ - Foi a nova câmera um Upgrade relevante?

Ômega Centauri com QHY163m - Tempo total de exposição: 36 minutos - 8 frames de 90 segundos em Bin 2x2 para cada cor.





Ômega Centauri com Atik314L+ - Tempo total de exposição: 2 horas e 40  minutos - 20 frames de 5 minutos de luminância e 4 frames de 5 minutos em Bin 1x1 para cada cor.

Já fazem alguns meses que estou com a minha nova câmera astronômica monocromática QHY163m, que, com seus 16 megapixels de resolução, veio "substituir" a Atik 314L+, com somente 1,3 megapixels, mas que tantas alegrias me deu nos últimos anos. Adquirida no início de maio e recebida no inicio de junho, não usei a QHY163m tanto quanto eu gostaria, mas já posso ter uma boa ideia do desempenho dela em relação à Atik 314L+.

Primeiro, devo dizer algo sobre a Atik 314L+. Se, em termos de resolução, seus 1,3 megapixels deixavam ela atrás das câmeras com sensores maiores, trabalhar com a QHY163m provou que eu estava completamente certo quanto aos motivos que me fizeram adquirir a Atik 314L+ a época. Sim, trabalhar com uma câmera com sensor pequeno como o 2/3 polegadas da Atik 314L+ traz alguns problemas. É mais difícil apontar e enquadrar o objeto, deve-se tomar cuidado principalmente quando se troca de filtros, ainda mais em capturas feitas em mais de uma sessão, para se perder o mínimo de campo possível. Qualquer movimento do telescópio, na hora da troca de filtro, pode incorrer em perda de uma proporção considerável de campo na Atik 314L+. Com a QHY163m é mais fácil achar os objetos e o seu grande sensor de 4/3 polegadas aceita melhor alguma perda de campo.

Mas com um sensor menor, a Atik 314L+ se adaptou imediatamente a todo o meu econômico setup astronômico, sejam os tubos ópticos ou acessórios de 1,25 polegadas. Não houve necessidade de adquirir filtros maiores (e bem mais caros) nem aplanadores ou corretores de coma. Telescópios imperfeitos como os que possuo costumam realçar suas deficiências nas bordas da imagem. No centro, as aberrações são quase imperceptíveis. Poder usar a Atik 314L+ por muitos anos sem ter gastos adicionais foi uma tremenda vantagem.

Mas não é só pelo equipamento que uma câmera com sensor maior traz dificuldades. A óptica do telescópio pode ser corrigida com acessórios e os filtros de 1,25 polegadas estão dando uma vinhetagem muito leve na QHY163m, facilmente corrigida por flatframes. Entretanto, uma câmera com sensor maior também sofre mais com poluição luminosa. A vinhetagem e o gradiente que recebo em meu apartamento, numa área densa em Brasília, era praticamente irrelevante com a Atik 314L+ quando com filtros de banda estreita. Com a QHY163m, eu estou tendo um pouco mais de dificuldades na hora de processar as imagens de capturas feitas em meu apartamento, mesmo capturadas com filtros de banda estreita.

Lidar com arquivos maiores também foi uma adaptação difícil pra mim. Como esperado, os arquivos de 16 megapixels da QHY163m levam mais tempo para carregar do que os de 1,3 megapixels da Atik314L+. Sim, a QHY tem entrada USB3.0, show de bola, mas os arquivos são quase 16 vezes maiores. E a porta USB3.0 do meu notebook não consegue compensar isso. Essa maior demora no carregamento dos arquivos não faz muita diferença quando já estamos registrando os lightframes, que podem durar vários minutos. Esperar dez segundos de download entre um lightframe e outro não é um grande sacrifício. Mas quando estamos fazendo os ajustes de foco, enquadramento, entre outras coisas, essa maior demora começa a desgastar a paciência. Até por que, nos softwares que utilizei, a QHY163m só faz Binning 2x2, fazendo uma imagem com ainda quatro megapixels de tamanho mesmo para uma prévia, enquanto a Atik 314L+ faz até Binning 8x8. Na hora dos ajustes de imagem eu sinto muitas saudades dos arquivos pequenos da Atik 314L+, que carregavam em um segundo.

Mas vale dizer, estes inconvenientes citados são todos devidos a uma característica superior da QHY163m. Agora os problemas verdadeiros: provavelmente por ser uma câmera com sensor CMOS, a QHY163 apresenta um tipo de defeito em imagens integradas que eu nunca vi na Atik314L+, mas já tinha percebido algumas vezes na Canon T2i e em imagens de outros astrofotógrafos que utilizaram câmeras com sensor CMOS. O resultado da integração apresenta linhas de ruídos inclinadas, como você pode perceber na imagem abaixo, crop de uma captura de NGC 6188 também feita no 10°EBA. Eu não sei o que causa isso. Não aparece em todas as imagens e é pouco perceptível. Ainda não fiz um estudo sobre este problema e se alguém quiser colaborar, sinta-se a vontade. Não é algo que destrói a imagem, mas exige um certo cuidado durante o processamento.

Repare nas linhas inclinadas para a esquerda neste crop de um lightframe da QHY163m

Mas o que tem incomodado mesmo na QHY163m é o tal do Amplifier Glow. Uma mania de sensores do tipo CMOS (a Atik usa um sensor CCD) de deixarem partes da imagem mais claras do que outras. Num primeiro momento, pode até ser confundido com vinhetagem ou gradiente na imagem, que geralmente é causada por luzes parasitas na óptica e deve ser tirado com Flat Frames. Mas é algo que está no sensor da câmera e não na óptica. Por isso, tem de ser tirado com Dark Frames. Sendo assim, pelo que tenho visto, enquanto é possível astrofotografar com uma câmera CCD como a Atik 314L+ sem dark frames, com uma CMOS, Dark Frames são obrigatórios.

Amplifier Glow (região mais clara a direita) em single frame da Nebulosa do Camarão.
O grande problema que estou tendo com o Amplifier Glow é que, com o ganho da QHY163m em zero, o Amplifier Glow sai facilmente com os dark frames, mas quando elevo o ganho para 30 (o ajuste vai até 60), o resultado da integração, mesmo com dark frames, é prejudicado. Tanto que os registros que fiz com esse nível de ganho não ficaram, digamos, publicáveis. Isso acaba tirando uma das vantagens que eu esperava desta câmera em relação à Atik 314L+, que era fazer frames curtos com ganho elevado, integrar muitos deles e conseguir imagens que só conseguiria com frames muito longos com a Atik 314L+.

Após tantos comentários negativos, pode até parecer que a conclusão foi que a QHY163m não foi um bom upgrade em relação a Atik 314L+. Mas não é o que acontece. Os problemas causados pelo sensor maior são todos decorrentes de estar usando um equipamento superior, que exige uma óptica melhor e um céu em melhores condições. É o preço que se paga por ter um equipamento de maior capacidade. Com seus 16 megapixels de resolução, a QHY163 produz imagens muito mais nítidas, com estrelas menores e maior campo do que a Atik 314L+. Quanto a seus defeitos reais. Eles são contornáveis. Darks e Flat frames podem tirar quase todos os defeitos dos lightframes. E recursos simples do Fitswork removem quase todos os problemas ópticos restantes. Sim, não estou conseguindo usar ganhos maiores, mas mesmo no menor ganho a câmera apresenta excelente sensibilidade. Além disso, ganho é algo meio relativo em astrofotografia de céu profundo, já que no fim teremos que ajustar os níveis da imagem integrada, geralmente bem escura.

Para mim, a maior prova do avanço da QHY163m em relação a Atik 314L+ está no fato de que estou finalmente produzindo meu primeiro livro de fotos e basicamente todas as imagens que eu fiz com a QHY163m substituíram registros feitos com a Atik 31L+, por apresentarem fotos mais bonitas e ficarem melhores no formato A4 que o livro vai ter. E olha que em muitos casos foram registros com a QHY163 que tinham uma fração do tempo de exposição da Atik 314L+, como o do Aglomerado Globular NGC 5139, no alto deste post. Isso mostra que o upgrade valeu muito a pena.

Mas a QHY163m não vai me fazer vender a Atik314L+. Se a foto da QHY163m fica mais nítida e bonita que a da Atik314L, quando olhamos os objetos mais de perto e analisamos os detalhes capturados pelas duas câmeras, a Atik314L+ me parece ser capaz de uma imagem mais definida. Para galáxias de menor campo, que caibam com sobras no sensor desta câmera, acho que a Atik 314L+ permanecerá imbatível.

Onde a QHY163 me parece surpreender mais é nas imagens em RGB. Imagens em cores naturais nunca foram o ponto forte da Atik 314L+ e eu já estou começando a ficar um pouco saturado de imagens em Hubble Palette. Então, no próximo EBA devo tentar explorar ao máximo a capacidade da QHY163m e focar em objetos diferentes das nebulosas de emissão, como galáxias, campos estelares, nebulosas escuras ou de reflexão. O resultados de amigos que estão utilizando esta câmera para fotos RGB têm mostrado isso.

Este é um post baseado em opiniões pessoais, de quem está constantemente aprendendo. Por isso, não se assuste se, no futuro, algumas opiniões mudarem. Pode acontecer de, por exemplo, que eu consiga resolver a questão de usar ganhos elevados com a QHY163m, o que seria muito interessante.


Nebulosa da Lagosta registrada no EBA de 2017, com a QHY163m em refrator de 102mm

Nebulosa da Lagosta, registrada com a Atik314L+, com o mesmo telescópio refrator.


sábado, 17 de junho de 2017

Primeira imagem com a QHY163

Nebulosa da Lagoa, capturada com a QHY163m no refrator de 102mm. Foram 36 frames de 2 minutos com filtro H-alpha e 10 frames de dois minutos para os filtros de Oxigênio 3 e Enxofre 2. Composição em Hubble Palette.

Finalmente chegaram as câmeras QHY163m e QHY5III-224c que adquiri no Tellescopio.com. Ou melhor, na verdade elas chegaram bem antes do que eu esperava. O site dizia que faria as encomendas no dia 31 de maio. E como as câmeras viriam da China, eu esperava, na mais otimista das expectativas, que elas chegassem no meio de julho, antes do Encontro Brasileiro de Astrofotografia. Quando recebi a mensagem, dia 9 de junho, de que as câmeras estavam sendo preparadas para envio, foi uma tremenda surpresa.

As câmeras chegaram na terça e eu já comecei a utilizá-las na quarta-feira. De cara percebi uma desvantagem das QHY em relação aos modelos da ZWO. Enquanto as ZWO já eram encontradas pelos softwares que utilizo, as QHY precisam mais de um sistema chamado de ASCOM para conversarem com softwares astronômicos. Num primeiro momento eu fiquei meio chateado. Sempre achei que trabalhar com ASCOM era coisa para engenheiros e a documentação existente na internet não ajuda muito. Felizmente, descobri que é muito mais simples do que eu pensava. Fuçar um pouco já resolveu o problema. Você precisa apenas, instalar os drivers da câmera, encontrar os drivers no ASCOM, como se estivesse abrindo a câmera num software de captura, e depois disso basta selecionar a "câmera" ASCOM no software de captura. O software até vai perguntar qual câmera eu quero conectar. Isso aconteceu comigo por que tenho duas câmeras QHY conectadas ao mesmo tempo.

Como diz o José Carlos Diniz, as câmeras astronômicas com sensores CMOS são bichos diferentes das câmeras com sensor CCD. A principal diferença que vemos logo de cara são as opções de ajuste de Ganho e Offset. O ajuste de ganho é bastante claro, equivale ao ajuste de ISO das câmeras DSLR que conhecemos. Já o ajuste de OFFset está relacionado com o ajuste do nível da cor preta. Eu entendo mais do ganho. Sei que mais ganho gera mais ruído, mas permite frames mais curtos e uma maior quantidade de frames pode compensar o maior ruído. Mas selecionar os melhores valores para estes ajustes pode afetar o Range Dinâmico da câmera. Pelo que vi, valores maiores são interessantes para objetos muito pálidos e de brilho uniforme, como nebulosas de emissão extensas, mas para nebulosas com muita variedade de brilho, como a Nebulosa da Lagoa, de Orion, ou Galáxias, que têm um núcleo muito mais brilhantes que o resto do corpo, um maior ganho e mais OFFset pode gerar imagens estouradas (o OFFset também afeta o range dinâmico). Desculpem se falei besteira, mais para frente quero entrar mais a fundo neste assunto, que gera dúvidas até entre astrofotógrafos mais experientes. Felizmente, a QHY163 já veio com um preset de ganho e OFFset para céu profundo e podemos utilizar estes parâmetros pré-definidos. Mesmo assim eu aumentei um pouco o ganho para 30, o que provavelmente gerou o estouro do núcleo da Nebulosa da Lagoa na imagem do início do post.

Eu já tinha utilizado uma câmera astronômica resfriada com sensor CMOS, a ASI174. E agora com a QHY163 percebo que nestas câmeras é normal que determinadas regiões apresentem clareamento de áreas do sensor. Esse clareamento é chamado de Amplifier Glow e pode ser totalmente retirado com o uso de Dark Frames. A ATIK314L+ nunca apresentou este tipo de alteração nos frames. Então, se na Atik 314L+ eu podia até dispensar dark frames, em câmeras CMOS eles são obrigatórios.

Depois de tanto tempo com o pequeno sensor 2/3 de polegada da ATIK314L+, ter uma câmera com sensor 4/3 de polegada (o dobro da diagonal e 4 vezes mais área) é algo maravilhoso. É muito mais fácil encontrar e enquadrar os objetos e a perda de campo na troca de filtros não causa arrepios. Mas algo que me preocupa com a QHY163 é em relação à vinhetagem. A câmera tem um sensor praticamente do tamanho do diâmetro de um filtro de 1,25 polegadas. Na imagem que vemos acima eu fiquei na dúvida se houve ou não vinhetagem. As bordas estão um pouco mais escuras do que o resto da imagem. Mas também estão azuis. Os flat frames mostraram vinhetagem bem nos cantos da imagem, mas que pode ser totalmente retirada com a aplicação destes frames de calibração. A verdade é que se o setup apresentar vinhetagem na imagem final, eu vou conviver com isso por um bom tempo, pois filtros de 2 polegadas são muito mais caros do que os de 1,25 polegadas e repor todo meu conjunto de filtros, RGB, IR/UV Cut e banda estreita, além da roda de filtros, pode custar um bom dinheiro.

A imagem acima não teve uma captura perfeita porque eu estava com pressa de ter uma experiência completa com a nova câmera. Não quis perder tempo com alinhamento e a guiagem, feita com a também nova QHY5-III 224c não aguentaria mais do que dois minutos por frame sem deixar rastros. Mas o relaxo mesmo foi no foco. O software que eu utilizei foi o EZcap, desenvolvido pela própria QHY e ele tem a função de assistente de foco, mas nem me dei ao trabalho de usar.

Apesar de tudo, fico muito feliz com essa primeira imagem e tenho certeza de que, com mais apuro, imagens fantásticas estão por vir.

Abaixo, algumas imagens interessantes que mostram as características do setup utilizado:

Flat frame feito com a QHY163 com roda de filtros de 1,25 polegadas mostra leve vinhetagem nas bordas da captura, provocado pelos filtros praticamente do tamanho do sensor.

Dark frame (com aumento de brilho) mostra áreas mais claras na imagem, efeito chamado de Amplifier Glow. A câmera estava com sensor em temperatura de cerca de zero grau

Light frame H-alpha (com brilho aumentado) mostra como áreas mais claras aparecem, mas serão eliminadas com a aplicação dos darks.

Canal H-alpha com integração de 36 light frames, 10 darks e 30 flats.
Setup utilizado na captura. Vemos a QHY163 no telescópio principal, com roda de filtros de 1,25 polegadas, o aplanador de campo da Orion à frente da roda de filtros. Também vemos a QHY5III-224 com lente Nikon de 135mm F2.8 como telescópio de guiagem. A montagem é a HEQ5 da SkyWatcher.