Finalmente chegaram as câmeras QHY163m e QHY5III-224c que adquiri no Tellescopio.com. Ou melhor, na verdade elas chegaram bem antes do que eu esperava. O site dizia que faria as encomendas no dia 31 de maio. E como as câmeras viriam da China, eu esperava, na mais otimista das expectativas, que elas chegassem no meio de julho, antes do Encontro Brasileiro de Astrofotografia. Quando recebi a mensagem, dia 9 de junho, de que as câmeras estavam sendo preparadas para envio, foi uma tremenda surpresa.
As câmeras chegaram na terça e eu já comecei a utilizá-las na quarta-feira. De cara percebi uma desvantagem das QHY em relação aos modelos da ZWO. Enquanto as ZWO já eram encontradas pelos softwares que utilizo, as QHY precisam mais de um sistema chamado de ASCOM para conversarem com softwares astronômicos. Num primeiro momento eu fiquei meio chateado. Sempre achei que trabalhar com ASCOM era coisa para engenheiros e a documentação existente na internet não ajuda muito. Felizmente, descobri que é muito mais simples do que eu pensava. Fuçar um pouco já resolveu o problema. Você precisa apenas, instalar os drivers da câmera, encontrar os drivers no ASCOM, como se estivesse abrindo a câmera num software de captura, e depois disso basta selecionar a "câmera" ASCOM no software de captura. O software até vai perguntar qual câmera eu quero conectar. Isso aconteceu comigo por que tenho duas câmeras QHY conectadas ao mesmo tempo.
Como diz o José Carlos Diniz, as câmeras astronômicas com sensores CMOS são bichos diferentes das câmeras com sensor CCD. A principal diferença que vemos logo de cara são as opções de ajuste de Ganho e Offset. O ajuste de ganho é bastante claro, equivale ao ajuste de ISO das câmeras DSLR que conhecemos. Já o ajuste de OFFset está relacionado com o ajuste do nível da cor preta. Eu entendo mais do ganho. Sei que mais ganho gera mais ruído, mas permite frames mais curtos e uma maior quantidade de frames pode compensar o maior ruído. Mas selecionar os melhores valores para estes ajustes pode afetar o Range Dinâmico da câmera. Pelo que vi, valores maiores são interessantes para objetos muito pálidos e de brilho uniforme, como nebulosas de emissão extensas, mas para nebulosas com muita variedade de brilho, como a Nebulosa da Lagoa, de Orion, ou Galáxias, que têm um núcleo muito mais brilhantes que o resto do corpo, um maior ganho e mais OFFset pode gerar imagens estouradas (o OFFset também afeta o range dinâmico). Desculpem se falei besteira, mais para frente quero entrar mais a fundo neste assunto, que gera dúvidas até entre astrofotógrafos mais experientes. Felizmente, a QHY163 já veio com um preset de ganho e OFFset para céu profundo e podemos utilizar estes parâmetros pré-definidos. Mesmo assim eu aumentei um pouco o ganho para 30, o que provavelmente gerou o estouro do núcleo da Nebulosa da Lagoa na imagem do início do post.
Eu já tinha utilizado uma câmera astronômica resfriada com sensor CMOS, a ASI174. E agora com a QHY163 percebo que nestas câmeras é normal que determinadas regiões apresentem clareamento de áreas do sensor. Esse clareamento é chamado de Amplifier Glow e pode ser totalmente retirado com o uso de Dark Frames. A ATIK314L+ nunca apresentou este tipo de alteração nos frames. Então, se na Atik 314L+ eu podia até dispensar dark frames, em câmeras CMOS eles são obrigatórios.
Depois de tanto tempo com o pequeno sensor 2/3 de polegada da ATIK314L+, ter uma câmera com sensor 4/3 de polegada (o dobro da diagonal e 4 vezes mais área) é algo maravilhoso. É muito mais fácil encontrar e enquadrar os objetos e a perda de campo na troca de filtros não causa arrepios. Mas algo que me preocupa com a QHY163 é em relação à vinhetagem. A câmera tem um sensor praticamente do tamanho do diâmetro de um filtro de 1,25 polegadas. Na imagem que vemos acima eu fiquei na dúvida se houve ou não vinhetagem. As bordas estão um pouco mais escuras do que o resto da imagem. Mas também estão azuis. Os flat frames mostraram vinhetagem bem nos cantos da imagem, mas que pode ser totalmente retirada com a aplicação destes frames de calibração. A verdade é que se o setup apresentar vinhetagem na imagem final, eu vou conviver com isso por um bom tempo, pois filtros de 2 polegadas são muito mais caros do que os de 1,25 polegadas e repor todo meu conjunto de filtros, RGB, IR/UV Cut e banda estreita, além da roda de filtros, pode custar um bom dinheiro.
A imagem acima não teve uma captura perfeita porque eu estava com pressa de ter uma experiência completa com a nova câmera. Não quis perder tempo com alinhamento e a guiagem, feita com a também nova QHY5-III 224c não aguentaria mais do que dois minutos por frame sem deixar rastros. Mas o relaxo mesmo foi no foco. O software que eu utilizei foi o EZcap, desenvolvido pela própria QHY e ele tem a função de assistente de foco, mas nem me dei ao trabalho de usar.
Apesar de tudo, fico muito feliz com essa primeira imagem e tenho certeza de que, com mais apuro, imagens fantásticas estão por vir.
Abaixo, algumas imagens interessantes que mostram as características do setup utilizado:
Abaixo, algumas imagens interessantes que mostram as características do setup utilizado:
Flat frame feito com a QHY163 com roda de filtros de 1,25 polegadas mostra leve vinhetagem nas bordas da captura, provocado pelos filtros praticamente do tamanho do sensor. |
Dark frame (com aumento de brilho) mostra áreas mais claras na imagem, efeito chamado de Amplifier Glow. A câmera estava com sensor em temperatura de cerca de zero grau |
Light frame H-alpha (com brilho aumentado) mostra como áreas mais claras aparecem, mas serão eliminadas com a aplicação dos darks. |
Canal H-alpha com integração de 36 light frames, 10 darks e 30 flats. |
Excelente resultado Andolfato. Por que colocar o aplanador de campo na frente da toda e não junto à câmera?
ResponderExcluirValeu, Diniz. No caso do aplanador, como ele é de duas polegadas e eu estou usando roda de filtros de 1,25, acredito que o melhor lugar para o aplanador é antes da roda de filtros. Se eu afastar a câmera da roda de filtros, irá aumentar a vinhetagem.
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