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domingo, 18 de fevereiro de 2018

O Tripleto de Leão, do Águas Claras

Tripleto do Leão - Registrado com refrator de 102mm e Câmera QHY163m.
Mesmo sob a enorme poluição luminosa de Brasília, eu sigo me aventurando fora das fronteiras da Via Láctea. O alvo agora foi o Conjunto de Galáxias Tripleto do Leão, registrado na madrugada de sexta para sábado, da varanda do meu apartamento, em Águas Claras.

O Tripleto do Leão é formado pelas galáxias M65 (abaixo, à esquerda), M66 (acima, à esquerda) e NGC 3628 (à direita). Estas três grandes galáxias estão a cerca de 35 milhões de anos-luz da Terra. As galáxias estão na direção da constelação que dá nome ao grupo, aparecendo no céu pouco depois do início da noite.

Não gostei tanto do fundo, com algumas manchas de sujeira impactando a imagem, mas os detalhes e as cores dos objetos ficaram muito bons. Eu acho esse conjunto belíssimo e existe enorme possibilidade que eu volte a ele quando estiver num céu escuro, se tiver a oportunidade, é claro.

Para esta fotografia, usei os filtros LRGB da Optolong e também um filtro CLS à frente da roda de filtros. Como é um filtro de 1,25 polegadas, acabei tendo muitos problemas com vinhetagem. Para continuar usando um filtro CLS, vou ter que trocar ele por um modelo de 2 polegadas ou passar a usar a ATIK314L, com um sensor menor. Ainda assim, sinto que posso evoluir muito com este tipo de fotografia da Varanda do Apartamento.

Foram 142 frames de um minuto, sendo 97 de Luminância e 15 para cada cor.
Telecópio: Refrator ED 102mm F7
Câmera: QHY163m
Montagem: Skywatche HEQ5.

Abaixo, vemos cada galáxia em detalhes:

Galáxia Espiral M65

Galáxia Espiral M66

NGC 3628 é conhecida como Galáxia do Hambúrguer

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Fotografando Galáxias da Varanda do Apartamento

Galáxias M96 e M95, capturadas com a câmera QHY163m, Telescópio Refrator 102mm e filtros LRGB Optolong



Fotografar galáxias da varanda do meu apartamento nunca foi algo que considerei como uma boa investida. Afinal, diferente de nebulosas de emissão, não há filtros que isolem bem a luz destes objetos da poluição luminosa de Brasília.

Mas nesta época do ano praticamente não há nebulosas de emissão visíveis da varanda do meu apartamento, apontada para o Leste e Norte. Sendo que neste momento as Nebulosas de emissão do início da noite estão todas a Oeste e as do meio da noite estão a Sul.

Mas sedento para sentar na varanda e viajar pelo céu, mesmo sabendo dos problemas com a poluição luminosa, resolvi arriscar, nem que fosse para brincar e registrar somente o borrão de algumas galáxias da varanda do meu apartamento. As escolhidas foram as galáxias M95 e M96, que caberiam juntas num único registro. Estas duas galáxias fazem parte do chamado Grupo M96 ou Grupo de Galáxias Leão I, que é um dos grupos do Super aglomerado de Virgem, do qual faz parte o Grupo Local, da Via Láctea.

A Galáxia principal do grupo M96 obviamente é aquela que dá nome ao Grupo. M96 aparece à esquerda na imagem. Ela é uma galáxia espiral a 38 milhões de anos-luz da Terra e tem magnitude aparente de 9,3. A vizinha, M95, está numa distância praticamente igual, mostrando como está ligada gravitacionalmente a M96, mas é um pouco mais pálida, com magnitude aparente 9,7.

A primeira limitação que enfrento ao registrar com filtros RGB da varanda do apartamento é no tempo de exposição por frame. Se eu tentar frames muito longos, o céu de fundo logo irá estourar a imagem. Os light frames da captura acima tem apenas um minuto de duração. Para tentar compensar frames mais curtos a solução é fazer muitos frames. A captação teve 141 frames somente de luminância, 15 frames com filtro vermelho, 20 frames com filtro verde e 14 com filtros azul.

O resultado final, embora humilde comparado com o que seria possível de uma área com céu escuro, até que me surpreendeu positivamente e me animou a seguir fazendo este tipo de registro e aperfeiçoar a técnica de captura.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Aplorando a Nebulosa Roseta

Nebulosa da Roseta, registrada na noite de sexta para sábado do último fim de semana, com telescópio refrator de 102mm F7 e Câmera QHY163mono.
A Nebulosa Roseta é uma nebulosa de emissão que surge nos céus brasileiros durante o verão, aparecendo logo depois da Constelação de Órion, na Constelação do Unicórnio. Esta nebulosa é bastante brilhante em fotografias, mas pouco visível ao telescópio, sendo muito mais fácil visualizar o aglomerado estelar aberto NGC 2244, que energiza a nebulosa a partir de seu centro, visível até mesmo com binóculos.

A grande nuvem de hidrogênio é mais formalmente reconhecida pelo sua catalogação do Caldwell, com o número 49, mas é mais informalmente reconhecida pela sua associação com o aglomerado estelar NGC 2244. Na verdade, vários objetos NGC compõem o que chamamos de Grande Complexo Nebular Roseta, formado pelos objetos NGC 2237, NGC 2238, NGC 2238 e NGC 2246.

A Nebulosa Roseta está a cerca de cinco mil anos-luz da Terra e possui cerca de 130 anos-luz de diâmetro. Para efeito de comparação, isso é aproximadamente o dobro do comprimento da Nebulosa da Lagoa, que está numa distância parecida, embora em posição oposta. Seu diâmetro aparente (o tamanho que vemos da Terra) é cerca de duas vezes o diâmetro aparente da Lua.

A Nebulosa Roseta esta localizada entre os chamados braço de Orion (onde está a Terra) e de Perseus, da Via Láctea. O Braço de Perseus é considerado o braço principal da Via Láctea. Ele sai do núcleo galáctico do outro lado da Via Láctea e passa atrás da Terra deste lado da Via Láctea. Estudos apontam que o Braço de Orion, onde Nebulosa de Orion e a própria Terra estão localizado, na verdade seria uma ramificação do braço de Perseus, mas isso ainda não está confirmado.


A cinco mil anos da Terra, a Nebulosa Roseta está entre os braços Galácticos de Orion e Perseus. O Sol está do lado interno do Braço de Orion, virado para o Braço de Sagitário (imagem:http://www.atlasoftheuniverse.com/).


Eu já visitei a Nebulosa da Roseta algumas vezes, nas mais variadas formas, com os mais variados tipos de equipamentos. É um objeto ótimo para se registrar tanto em Hubble Palette como em cores Naturais. A imagem do alto do post foi feita com a câmera QHY163 monocromática que comprei no primeiro semestre de 2017, mas acredito que só agora, em 2018, vou começar a aproveitar a câmera para valer. Para esta imagem, foram registrados 51 frames de 3 minutos com filtro H-alpha e mais 6 frames de três minutos para cada um dos outros dois filtros, Oxigênio III e Enxofre II.

Em todos os frames eu utilizei binning 2x2. Binning é quando você agrupa pixels da câmera para simular pixels maiores e assim conseguir mais sensibilidade. Isso incorre na diminuição da resolução. Mas para mim é a maior vantagem de se ter uma câmera com grande resolução e uma sensor maior. Com o Binning 2x2, eu faço os pixels da QHY163m ficarem grandes como o da Atik 314L+, minha outra câmera, mas ainda consigo quatro megapixels, uma resolução quatro vezes maior do que conseguiria com a Atik 314L+. Um bining 2x2 quer dizer que a cada 2 pixels horizontais e dois verticais, teremos um único pixel, mas duas vezes maior. Se o binning for 3x3, seriam 3 pixels verticais e 3 horizontais. Mas assim a resolução diminuiria em 9 vezes, o que tiraria muito da resolução da QHY163m, que na verdade, só permite binning de no máximo 2x2.

Este crop da imagem acima destaca os glóbulos de Bok da Nebulosa Roseta próximos a nuvens de poeira.

Esta "montanha" de hidrogênio é outra área de destaque da Nebulosa Roseta. Ela lembra montanhas que já vimos nas nebulosas América do Norte e Pelicano, entre outras.

 Como toda nebulosa de emissão, a Nebulosa Roseta em cores naturais é vermelha, apresentando traços em azul principalmente em seu interior. Sua forma, quando vista em cores naturais, reforça o apelido da nebulosa, que realmente lembra um grande botão de rosa flutuando por trás das estrelas. A Nebulosa está se espalhando do centro para fora, criando ondas de choque com as regiões em volta, que comprimem as nuvens de gás e geram formações como a da imagem logo acima. A Nebulosa Roseta tem um aspecto que lembra um pouco as nebulosas planetárias, mas sua extensão é muito maior do que o tamanho típico de uma planetária, sendo uma nebulosa com natureza semelhante a nebulosas como a da Lagoa (M8), por exemplo.

Nebulosa Roseta registrada em cores naturais. Composição de registro em H-alpha feito com câmera monocromática Atik 314L+ e cores capturadas com câmera DSLR Canon T2i, ambas com a lente Canon 200mm EF 2.8 USM II.

Registro feito somente com DSLR Canon T2i, lente de 200mm F2.8 e Ioptron Skytracker. Um setup bastante portátil que levei para chácara no Natal de 2016.




sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Os Girinos Cósmicos



Essa época do ano costuma ser uma das piores para fotografar, por isso, quando tempos uma noite aberta, ainda mais sem Lua, costuma ser uma oportunidade de ouro para capturarmos nebulosas que há muito tempo queremos registrar e as nuvens sempre atrapalham. Mas também pode ser uma época interessante para descobrirmos novos objetos no céu, ou mesmo, como no caso da imagem deste post, descobrir que é possível registrar nebulosas que imaginávamos estarem além do nosso alcance.

Na noite do feriado de 12 de outubro, eu percebi que poderia apontar meu telescópio, mesmo da varanda do meu apartamento, para algumas nebulosas interessantes no norte. O alvo que me parecia mais interessante era a nebulosa Flaming Star, catalogada como IC405.
Eu já tinha apontando o telescópio para Flaming Star quando notei que bem ao lado daquela nebulosa estava um dos objetos que eu acho mais interessantes no céu e que eu acreditava não ser possível fotografar do Brasil, muito menos de meu apartamento. 

Trata-se da Nebulosa do Girinos, catalogada como IC410. Acho que o nome não é muito popular no Brasil. Parece meio sem glamour, eu acredito, mas em inglês ela é conhecida como Tadpole Nebula, cuja tradução é girino. Acho que outra opção que teríamos é chama-lás de Nebulosa dos Espermatozóides. O problema é que daí não demorariam a encurtar o nome da nebulosa, que logo viraria Nebulosa do Esperma. Talvez seja melhor deixar como dos Girinos mesmo.

Apesar do céu estar bem aberto nos dias do registro, as condições estavam longe de serem as ideais. Devido à seca pela qual Brasília está passando, havia muita poeira e fumaça na atmosfera e isso acaba espalhando ainda mais a intensa poluição luminosa que enfrento da varanda de meu apartamento. Mais uma vez o sensor maior da QHY163m conversou com dificuldades com a poluição luminosa da varanda do meu apartamento e eu vejo que esta câmera é mais adequada para ser usada durante os encontros em fazendas, enquanto a Atik314L+  parece melhor para o apartamento.

De qualquer forma, capturar IC410 foi uma grande alegria. Mesmo com os defeitos da imagem, eu não lembro de outro astrofotógrafo brasileiro ter feito esta captura, o que é um grande orgulho.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Comparando a QHY163m com a Atik314L+ - Foi a nova câmera um Upgrade relevante?

Ômega Centauri com QHY163m - Tempo total de exposição: 36 minutos - 8 frames de 90 segundos em Bin 2x2 para cada cor.





Ômega Centauri com Atik314L+ - Tempo total de exposição: 2 horas e 40  minutos - 20 frames de 5 minutos de luminância e 4 frames de 5 minutos em Bin 1x1 para cada cor.

Já fazem alguns meses que estou com a minha nova câmera astronômica monocromática QHY163m, que, com seus 16 megapixels de resolução, veio "substituir" a Atik 314L+, com somente 1,3 megapixels, mas que tantas alegrias me deu nos últimos anos. Adquirida no início de maio e recebida no inicio de junho, não usei a QHY163m tanto quanto eu gostaria, mas já posso ter uma boa ideia do desempenho dela em relação à Atik 314L+.

Primeiro, devo dizer algo sobre a Atik 314L+. Se, em termos de resolução, seus 1,3 megapixels deixavam ela atrás das câmeras com sensores maiores, trabalhar com a QHY163m provou que eu estava completamente certo quanto aos motivos que me fizeram adquirir a Atik 314L+ a época. Sim, trabalhar com uma câmera com sensor pequeno como o 2/3 polegadas da Atik 314L+ traz alguns problemas. É mais difícil apontar e enquadrar o objeto, deve-se tomar cuidado principalmente quando se troca de filtros, ainda mais em capturas feitas em mais de uma sessão, para se perder o mínimo de campo possível. Qualquer movimento do telescópio, na hora da troca de filtro, pode incorrer em perda de uma proporção considerável de campo na Atik 314L+. Com a QHY163m é mais fácil achar os objetos e o seu grande sensor de 4/3 polegadas aceita melhor alguma perda de campo.

Mas com um sensor menor, a Atik 314L+ se adaptou imediatamente a todo o meu econômico setup astronômico, sejam os tubos ópticos ou acessórios de 1,25 polegadas. Não houve necessidade de adquirir filtros maiores (e bem mais caros) nem aplanadores ou corretores de coma. Telescópios imperfeitos como os que possuo costumam realçar suas deficiências nas bordas da imagem. No centro, as aberrações são quase imperceptíveis. Poder usar a Atik 314L+ por muitos anos sem ter gastos adicionais foi uma tremenda vantagem.

Mas não é só pelo equipamento que uma câmera com sensor maior traz dificuldades. A óptica do telescópio pode ser corrigida com acessórios e os filtros de 1,25 polegadas estão dando uma vinhetagem muito leve na QHY163m, facilmente corrigida por flatframes. Entretanto, uma câmera com sensor maior também sofre mais com poluição luminosa. A vinhetagem e o gradiente que recebo em meu apartamento, numa área densa em Brasília, era praticamente irrelevante com a Atik 314L+ quando com filtros de banda estreita. Com a QHY163m, eu estou tendo um pouco mais de dificuldades na hora de processar as imagens de capturas feitas em meu apartamento, mesmo capturadas com filtros de banda estreita.

Lidar com arquivos maiores também foi uma adaptação difícil pra mim. Como esperado, os arquivos de 16 megapixels da QHY163m levam mais tempo para carregar do que os de 1,3 megapixels da Atik314L+. Sim, a QHY tem entrada USB3.0, show de bola, mas os arquivos são quase 16 vezes maiores. E a porta USB3.0 do meu notebook não consegue compensar isso. Essa maior demora no carregamento dos arquivos não faz muita diferença quando já estamos registrando os lightframes, que podem durar vários minutos. Esperar dez segundos de download entre um lightframe e outro não é um grande sacrifício. Mas quando estamos fazendo os ajustes de foco, enquadramento, entre outras coisas, essa maior demora começa a desgastar a paciência. Até por que, nos softwares que utilizei, a QHY163m só faz Binning 2x2, fazendo uma imagem com ainda quatro megapixels de tamanho mesmo para uma prévia, enquanto a Atik 314L+ faz até Binning 8x8. Na hora dos ajustes de imagem eu sinto muitas saudades dos arquivos pequenos da Atik 314L+, que carregavam em um segundo.

Mas vale dizer, estes inconvenientes citados são todos devidos a uma característica superior da QHY163m. Agora os problemas verdadeiros: provavelmente por ser uma câmera com sensor CMOS, a QHY163 apresenta um tipo de defeito em imagens integradas que eu nunca vi na Atik314L+, mas já tinha percebido algumas vezes na Canon T2i e em imagens de outros astrofotógrafos que utilizaram câmeras com sensor CMOS. O resultado da integração apresenta linhas de ruídos inclinadas, como você pode perceber na imagem abaixo, crop de uma captura de NGC 6188 também feita no 10°EBA. Eu não sei o que causa isso. Não aparece em todas as imagens e é pouco perceptível. Ainda não fiz um estudo sobre este problema e se alguém quiser colaborar, sinta-se a vontade. Não é algo que destrói a imagem, mas exige um certo cuidado durante o processamento.

Repare nas linhas inclinadas para a esquerda neste crop de um lightframe da QHY163m

Mas o que tem incomodado mesmo na QHY163m é o tal do Amplifier Glow. Uma mania de sensores do tipo CMOS (a Atik usa um sensor CCD) de deixarem partes da imagem mais claras do que outras. Num primeiro momento, pode até ser confundido com vinhetagem ou gradiente na imagem, que geralmente é causada por luzes parasitas na óptica e deve ser tirado com Flat Frames. Mas é algo que está no sensor da câmera e não na óptica. Por isso, tem de ser tirado com Dark Frames. Sendo assim, pelo que tenho visto, enquanto é possível astrofotografar com uma câmera CCD como a Atik 314L+ sem dark frames, com uma CMOS, Dark Frames são obrigatórios.

Amplifier Glow (região mais clara a direita) em single frame da Nebulosa do Camarão.
O grande problema que estou tendo com o Amplifier Glow é que, com o ganho da QHY163m em zero, o Amplifier Glow sai facilmente com os dark frames, mas quando elevo o ganho para 30 (o ajuste vai até 60), o resultado da integração, mesmo com dark frames, é prejudicado. Tanto que os registros que fiz com esse nível de ganho não ficaram, digamos, publicáveis. Isso acaba tirando uma das vantagens que eu esperava desta câmera em relação à Atik 314L+, que era fazer frames curtos com ganho elevado, integrar muitos deles e conseguir imagens que só conseguiria com frames muito longos com a Atik 314L+.

Após tantos comentários negativos, pode até parecer que a conclusão foi que a QHY163m não foi um bom upgrade em relação a Atik 314L+. Mas não é o que acontece. Os problemas causados pelo sensor maior são todos decorrentes de estar usando um equipamento superior, que exige uma óptica melhor e um céu em melhores condições. É o preço que se paga por ter um equipamento de maior capacidade. Com seus 16 megapixels de resolução, a QHY163 produz imagens muito mais nítidas, com estrelas menores e maior campo do que a Atik 314L+. Quanto a seus defeitos reais. Eles são contornáveis. Darks e Flat frames podem tirar quase todos os defeitos dos lightframes. E recursos simples do Fitswork removem quase todos os problemas ópticos restantes. Sim, não estou conseguindo usar ganhos maiores, mas mesmo no menor ganho a câmera apresenta excelente sensibilidade. Além disso, ganho é algo meio relativo em astrofotografia de céu profundo, já que no fim teremos que ajustar os níveis da imagem integrada, geralmente bem escura.

Para mim, a maior prova do avanço da QHY163m em relação a Atik 314L+ está no fato de que estou finalmente produzindo meu primeiro livro de fotos e basicamente todas as imagens que eu fiz com a QHY163m substituíram registros feitos com a Atik 31L+, por apresentarem fotos mais bonitas e ficarem melhores no formato A4 que o livro vai ter. E olha que em muitos casos foram registros com a QHY163 que tinham uma fração do tempo de exposição da Atik 314L+, como o do Aglomerado Globular NGC 5139, no alto deste post. Isso mostra que o upgrade valeu muito a pena.

Mas a QHY163m não vai me fazer vender a Atik314L+. Se a foto da QHY163m fica mais nítida e bonita que a da Atik314L, quando olhamos os objetos mais de perto e analisamos os detalhes capturados pelas duas câmeras, a Atik314L+ me parece ser capaz de uma imagem mais definida. Para galáxias de menor campo, que caibam com sobras no sensor desta câmera, acho que a Atik 314L+ permanecerá imbatível.

Onde a QHY163 me parece surpreender mais é nas imagens em RGB. Imagens em cores naturais nunca foram o ponto forte da Atik 314L+ e eu já estou começando a ficar um pouco saturado de imagens em Hubble Palette. Então, no próximo EBA devo tentar explorar ao máximo a capacidade da QHY163m e focar em objetos diferentes das nebulosas de emissão, como galáxias, campos estelares, nebulosas escuras ou de reflexão. O resultados de amigos que estão utilizando esta câmera para fotos RGB têm mostrado isso.

Este é um post baseado em opiniões pessoais, de quem está constantemente aprendendo. Por isso, não se assuste se, no futuro, algumas opiniões mudarem. Pode acontecer de, por exemplo, que eu consiga resolver a questão de usar ganhos elevados com a QHY163m, o que seria muito interessante.


Nebulosa da Lagosta registrada no EBA de 2017, com a QHY163m em refrator de 102mm

Nebulosa da Lagosta, registrada com a Atik314L+, com o mesmo telescópio refrator.


sábado, 17 de junho de 2017

Primeira imagem com a QHY163

Nebulosa da Lagoa, capturada com a QHY163m no refrator de 102mm. Foram 36 frames de 2 minutos com filtro H-alpha e 10 frames de dois minutos para os filtros de Oxigênio 3 e Enxofre 2. Composição em Hubble Palette.

Finalmente chegaram as câmeras QHY163m e QHY5III-224c que adquiri no Tellescopio.com. Ou melhor, na verdade elas chegaram bem antes do que eu esperava. O site dizia que faria as encomendas no dia 31 de maio. E como as câmeras viriam da China, eu esperava, na mais otimista das expectativas, que elas chegassem no meio de julho, antes do Encontro Brasileiro de Astrofotografia. Quando recebi a mensagem, dia 9 de junho, de que as câmeras estavam sendo preparadas para envio, foi uma tremenda surpresa.

As câmeras chegaram na terça e eu já comecei a utilizá-las na quarta-feira. De cara percebi uma desvantagem das QHY em relação aos modelos da ZWO. Enquanto as ZWO já eram encontradas pelos softwares que utilizo, as QHY precisam mais de um sistema chamado de ASCOM para conversarem com softwares astronômicos. Num primeiro momento eu fiquei meio chateado. Sempre achei que trabalhar com ASCOM era coisa para engenheiros e a documentação existente na internet não ajuda muito. Felizmente, descobri que é muito mais simples do que eu pensava. Fuçar um pouco já resolveu o problema. Você precisa apenas, instalar os drivers da câmera, encontrar os drivers no ASCOM, como se estivesse abrindo a câmera num software de captura, e depois disso basta selecionar a "câmera" ASCOM no software de captura. O software até vai perguntar qual câmera eu quero conectar. Isso aconteceu comigo por que tenho duas câmeras QHY conectadas ao mesmo tempo.

Como diz o José Carlos Diniz, as câmeras astronômicas com sensores CMOS são bichos diferentes das câmeras com sensor CCD. A principal diferença que vemos logo de cara são as opções de ajuste de Ganho e Offset. O ajuste de ganho é bastante claro, equivale ao ajuste de ISO das câmeras DSLR que conhecemos. Já o ajuste de OFFset está relacionado com o ajuste do nível da cor preta. Eu entendo mais do ganho. Sei que mais ganho gera mais ruído, mas permite frames mais curtos e uma maior quantidade de frames pode compensar o maior ruído. Mas selecionar os melhores valores para estes ajustes pode afetar o Range Dinâmico da câmera. Pelo que vi, valores maiores são interessantes para objetos muito pálidos e de brilho uniforme, como nebulosas de emissão extensas, mas para nebulosas com muita variedade de brilho, como a Nebulosa da Lagoa, de Orion, ou Galáxias, que têm um núcleo muito mais brilhantes que o resto do corpo, um maior ganho e mais OFFset pode gerar imagens estouradas (o OFFset também afeta o range dinâmico). Desculpem se falei besteira, mais para frente quero entrar mais a fundo neste assunto, que gera dúvidas até entre astrofotógrafos mais experientes. Felizmente, a QHY163 já veio com um preset de ganho e OFFset para céu profundo e podemos utilizar estes parâmetros pré-definidos. Mesmo assim eu aumentei um pouco o ganho para 30, o que provavelmente gerou o estouro do núcleo da Nebulosa da Lagoa na imagem do início do post.

Eu já tinha utilizado uma câmera astronômica resfriada com sensor CMOS, a ASI174. E agora com a QHY163 percebo que nestas câmeras é normal que determinadas regiões apresentem clareamento de áreas do sensor. Esse clareamento é chamado de Amplifier Glow e pode ser totalmente retirado com o uso de Dark Frames. A ATIK314L+ nunca apresentou este tipo de alteração nos frames. Então, se na Atik 314L+ eu podia até dispensar dark frames, em câmeras CMOS eles são obrigatórios.

Depois de tanto tempo com o pequeno sensor 2/3 de polegada da ATIK314L+, ter uma câmera com sensor 4/3 de polegada (o dobro da diagonal e 4 vezes mais área) é algo maravilhoso. É muito mais fácil encontrar e enquadrar os objetos e a perda de campo na troca de filtros não causa arrepios. Mas algo que me preocupa com a QHY163 é em relação à vinhetagem. A câmera tem um sensor praticamente do tamanho do diâmetro de um filtro de 1,25 polegadas. Na imagem que vemos acima eu fiquei na dúvida se houve ou não vinhetagem. As bordas estão um pouco mais escuras do que o resto da imagem. Mas também estão azuis. Os flat frames mostraram vinhetagem bem nos cantos da imagem, mas que pode ser totalmente retirada com a aplicação destes frames de calibração. A verdade é que se o setup apresentar vinhetagem na imagem final, eu vou conviver com isso por um bom tempo, pois filtros de 2 polegadas são muito mais caros do que os de 1,25 polegadas e repor todo meu conjunto de filtros, RGB, IR/UV Cut e banda estreita, além da roda de filtros, pode custar um bom dinheiro.

A imagem acima não teve uma captura perfeita porque eu estava com pressa de ter uma experiência completa com a nova câmera. Não quis perder tempo com alinhamento e a guiagem, feita com a também nova QHY5-III 224c não aguentaria mais do que dois minutos por frame sem deixar rastros. Mas o relaxo mesmo foi no foco. O software que eu utilizei foi o EZcap, desenvolvido pela própria QHY e ele tem a função de assistente de foco, mas nem me dei ao trabalho de usar.

Apesar de tudo, fico muito feliz com essa primeira imagem e tenho certeza de que, com mais apuro, imagens fantásticas estão por vir.

Abaixo, algumas imagens interessantes que mostram as características do setup utilizado:

Flat frame feito com a QHY163 com roda de filtros de 1,25 polegadas mostra leve vinhetagem nas bordas da captura, provocado pelos filtros praticamente do tamanho do sensor.

Dark frame (com aumento de brilho) mostra áreas mais claras na imagem, efeito chamado de Amplifier Glow. A câmera estava com sensor em temperatura de cerca de zero grau

Light frame H-alpha (com brilho aumentado) mostra como áreas mais claras aparecem, mas serão eliminadas com a aplicação dos darks.

Canal H-alpha com integração de 36 light frames, 10 darks e 30 flats.
Setup utilizado na captura. Vemos a QHY163 no telescópio principal, com roda de filtros de 1,25 polegadas, o aplanador de campo da Orion à frente da roda de filtros. Também vemos a QHY5III-224 com lente Nikon de 135mm F2.8 como telescópio de guiagem. A montagem é a HEQ5 da SkyWatcher.




sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A espetacular nebulosa do Camarão - Entendendo um pouco das minhas capturas em Hubble Palette

H-alpha 11x10min
SII e OIII 10x5min Bin 2x2 cada.
Câmera: Atik 314L+
Montagem: Sky-Watcher HEQ5
Telescópio: Orion ED 102mm F7

A nebulosa do Camarão (IC4628) é com certeza um dos objetos que mais fotografei. Fácil de encontrar, numa região com grande densidade de estrelas na Constelação do Escorpião e de visual espetacular, seja com lente, telescópio, DSLR ou filtros de banda estreita, esta nebulosa é sempre um objeto que acaba me atraindo.

No último EBA fiz a imagem acima. Ela é uma composição em Hubble Palette produzida com filtros de banda estreita. Ou seja, as cores não são as verdadeiras do objeto, que, como toda nebulosa de emissão, seria majoritariamente vermelho. A composição Hubble Palette, famosa por ser utilizada em muitas imagens do Telescópio Hubble, usa os filtros de banda estreita de Hidrogênio, Enxofre e Oxigênio para produzir uma imagem com grande contraste e profundidade. Há quem goste e quem não goste deste tipo de imagem. Eu me desenvolvi muito nessa técnica por fotografar primariamente de uma área com grande poluição luminosa. Os filtros de banda estreita são de longe os mais capazes de retirar poluição luminosa de capturas astrofotográficas, embora estejam limitados às nebulosas de emissão, como a Nebulosa da Lagoa, da Águia, da Carina e, é claro, do Camarão. Estes filtros devem ser usados com câmeras monocromáticas. Em câmeras coloridas, apresentam um nível de ruído que pode exigir uma captura muito mais longa.

Os dados da captura aparecem logo abaixo da foto, mas para quem não compreende a forma como eu coloco a informação da captura, seguem algumas explicações:

H-alpha 11x10min = Quer dizer que fiz onze frames de dez minutos usando o filtro H-alpha. No caso, usei um filtro H-alpha da Orion de 7nm. Ele também foi usado como luminance. Ou seja, todos os detalhes que você vê da imagem são da captura em H-alpha. Se você converter a imagem acima para uma imagem monocromática, o resultado final será idêntico a captura em H-alpha.

SII e OIII 10x5min Bin 2x2 cada = aqui estou dizendo que para os outros dois filtros, o de Enxofre (SII) e o de Oxigênio (OIII), ambos de 8nm, da marca Baader, capturei dez frames de 5 minutos com cada filtro. Os frames foram mais curtos porque na captura usei o recurso de Binning em 2x2. Nesta configuração, a câmera transforma cada 4 pixels num único, somando a informação de brilho dos quatro pixels. O resultado é uma imagem mais brilhante, permitindo frames mais curtos. O problema é que o binning diminui a resolução dos frames em quatro vezes. Enquanto os frames da captura em H-Alpha têm resolução HD (1360x1024), os frames dos outros dois filtros tem resolução de 680x512. Mas como estes frames servirão apenas para incluir as cores na imagem final, o resultado será pouco afetado por esta menor resolução.

Cada conjunto de frames capturado num filtro específico é empilhado antes de ser compostos na imagem colorida. No Hubble Palette, o H-alpha é o Luminance e também a cor verde. O enxofre é a cor vermelha e o Oxigênio, a cor azul. Veja abaixo o resultado de cada uma das capturas destes filtros antes da composição na imagem colorida.

Captura na Nebulosa do Camarão com filtro Oxigênio 3 com câmera monocromática Atik 314L+. Integração de 10 frames de 5 minutos em Binning 2x2.
Algo interessante sobre imagens capturadas com o filtro de Oxigênio, é que elas praticamente nos mostram o que conseguiremos ver de uma nebulosa se olharmos através da ocular, num céu muito escuro e com um excelente instrumento. A faixa que o filtro de Oxigênio captura está próximo ao verde, cor que percebemos com mais facilidade.

Captura do filtro de Enxofre, também em 10 frames de 5 minutos em Binning 2x2.

Captura do H-alpha em 11 frames de 10 minutos em Binning 1x1. Repare como o H-alpha registra muito mais detalhes, por isso é também o Luminance da imagem do início do post.


Câmera: Atik 314L+ = Quer dizer que para a foto utilizei minha câmera Atik 314L+. Trata-se de uma câmera dedicada a astrofotografia, com sensor monocromático de resolução 1360x1024 com 2/3 polegadas de diagonal. Câmeras monocromáticas são muito apreciadas em astrofotografia, por apresentarem menos ruído e melhor definição de imagem. Além disso, a Atik 314L+ é uma câmera resfriada, o que permite frames mais longos sem que a câmera apresente muitos hotpixels, além de permitir que eu faça os frames imediatamente um após o o outro, sem necessidade de esperar que o sensor esfrie antes de começar os frames seguintes.

Montagem: Sky-Watcher HEQ5 = aqui estou dizendo que estou utilizando uma montagem HEQ5 da Sky-Watcher. Trata-se de uma montagem robusta, capaz de carregar telescópios médios. Esta montagem tem alguns recursos que a tornam ideal para astrofotografia de céu profundo:
  • Ser equatorial: somente um eixo, alinhado com o polo celeste, precisa estar em movimento durante a captura.
  • Ser motorizada: permite fazer registros de longa exposição dos objetos celestes, que movimentam-se rapidamente no telescópio.
  • Possuir entrada para guiagem: Uma porta na montagem permite acoplar um segundo telescópio com câmera, que irá filmar uma estrela, analisando seu movimento, permitindo que o acompanhamento motorizado da montagem faça correções pontuais durante a captura.

Telescópio: Orion ED 102mm F7: O telescópio usado foi um refrator do tipo ED chamado Orion Premium. Este telescópio tem 102mm de abertura (4 polegadas) e quando dizemos que é um telescópio F7, queremos dizer que a distância focal do telescópio é 7 vezes maior do que sua abertura, ou seja, 710mm. Com duas lentes, sendo uma feita com material especial, que corrige a dispersão da Luz, este telescópio é muito melhor do que um Refrator Acromático comum, em que não há uma lente especial para correção da luz; mas é inferior aos apocromáticos com 3 elementos, que custam em média o dobro do preço do Orion Premium.

O equipamento utilizado para a foto acima. Repare na câmera Atik 314L+ (vermelha), conectada à roda de filtros.


sábado, 10 de setembro de 2016

Sh2-86 - Uma pálida nebulosa que lembra o "Monstro do Lago Ness"

Nebulosa SH2-86, em Hubble Palette


Com certeza não é minha melhor imagem, mas esse objeto, localizado perto da estrela Albireo, é bastante pálido. Por isso, é muito pouco registrado, mesmo estando numa altitude muito boa para astrofotógrafos do Hemisfério Sul. Devo ser um dos primeiros a registrá-lo em banda estreita no Brasil, o que já me deixa muito feliz e já é mais do que motivo para publicá-la.

O grande destaque da imagem é o pilar que aparece no centro. A formação lembra claramente o corpo de um Brontossauro. Acho até que a nebulosa merecia esse apelido. Alguns colegas no EBA comentaram que lembrava o famoso monstro do Lago Ness. Lembram daquela foto famosa do monstro?



A imagem foi feita no Nono Encontro Brasileiro de Astrofotografia, em Padre Bernardo, com telescópio refrator ED de 102mm, câmera monocromática e filtros de banda estreita, por isso, como a maioria de minhas imagens de nebulosas feitas com telescópio, as cores não são as verdadeiras do objeto. Foi aplicado a técnica chamada Hubble Palette.

H-alpha 15x10min
SII e OIII 10x5min Bin 2x2 cada.
Câmera: Atik 314L+
Montagem: Sky-Watcher HEQ5
Telescópio: Orion ED 102mm F7

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Nebulosa Eta Carinae - Em Hubble Palette



Acabei de voltar do Nono Encontro Brasileiro de Astrofotografia, que ao contrário do ano passado, teve excelentes noites de céu limpo. Estou bastante feliz com o resultado e tenho muito material para brincar nas próximas semanas.

Deixo aqui uma das primeiras imagens que processei, da Nebulosa Eta Carinae, numa composição de cores falsa, mas belíssima, chamada Hubble Palette.

Considero um de meus melhores registros do encontro, na verdade um dos meus melhores entre todos o que fiz. Esse foi resultado de uma filosofia bastante diferente da do EBA passado. Em vez de tentar usar um telescópio de grande resolução, na busca de resultados superiores, mas que me deu muita dor de cabeça, optei por deixar o refletor de 200mm em casa e colocar sobre a montagem HEQ5 um refrator de 100mm, muito mais leve e agradável de trabalhar.

Outro pensamento que deu muito resultado, foi que, em vez de tentar fazer composições RGB, partindo do princípio de que deveria aproveitar o céu sem poluição luminosa, optei para me concentrar durante o EBA naquilo que sei fazer muito bem, que são composições em Hubble Palette.

Deixo também um registro do cometa Pansstars 2013 X1, que acompanhou todo o evento. Este foi feito com lente de 200mm e DSLR Canon T3i. Reparem como o cometa estava passando próximo a nebulosa NGC 6188.


domingo, 28 de junho de 2015

O ED de 102mm da Orion versus o Refletor de 200mm da Orion UK.


Após quase um ano com o telescópio Refletor Orion UK VX8 de 200mm de abertura e de vários anos com o Refrator Orion Premium ED de 102mm da Orion, Resolvi fazer um post sobre minhas impressões em relação ao dois telescópios e divagar sobre qual considero o melhor telescópio para Astrofotografia. A ideia original era fazer um post comparando telescópios refratores apocromáticos com refletores para astrofotografia de céu profundo, mas eu pensei melhor e achei que seria pretensão analisar toda uma classe de telescópios se eu basicamente só tive experiências com um modelo de cada, por isso, este post não será sobre refletores vs refratores, mas sobre o Refrator Orion Premium ED de 102mm F7 versus o refletor VX8 de 200mm F4.5

O Refrator Orion Premium Refrator é da empresa Orion, muito conhecida entre astrônomos amadores e astrofotógrafos. A Orion é uma marca que está num nível intermediário no mercado de equipamentos astronômicos e tem como principal rival a Sky-Watcher. Celestron e Meade também rivalizam com a Orion em vários produtos, embora estas duas últimas se destaquem por oferecerem grandes cassegrains em montagem altazimutais, algo que Orion e Sky-Watcher não fazem.
O Orion Premium, servindo de guiagem para fotografia com lentes.
O Orion Premium foi adquirido nos Estados Unidos, no ano de 2011, durante uma viagem para Nova York. O telescópio, composto somente pelo tubo óptico, veio para o Brasil enrolado no meio das roupas dentro de uma mala rígida. Aqui no Brasil eu o coloquei sobre uma CG-5 e o utilizei em quatro EBAs e quase uma centena de fotos feitas na varanda do apartamento.

Tratava-se, na época da compra, do refrator deste tipo e abertura mais barato a venda no mercado. Ele é composto por somente duas lentes, sendo uma delas produzida com material que não dispensa a luz. É o tipo mais simples de refrator Apocromático. Há até quem não considere o Orion Premium um legitimo Apocromático, o colocando numa categoria intermediária, logo acima dos acromáticos, os refratores mais simples. Estas pessoas consideram como apocromáticos legítimos somente refratores ED com três lentes. Eu não vou entrar nesta discussão, mas é claro que apocromáticos com três lentes devem ter um desempenho superior ao ED de duas lentes da Orion.

O Orion Premium saiu de linha pouco mais de um ano após a aquisição. Não sei qual foi exatamente o motivo, se ele estava tirando mercado de outros telescópios da Orion pelo baixo preço ou se o focalizador problemático acabou manchando o nome do produto a ponto da Orion desistir de sua fabricação. Após alguns meses, a engrenagem do focalizador do meu Orion Premium ficou frouxa, me obrigando a ajudar empurrando ou puxando o focalizador sempre que girava o ajuste. Eu não consegui resolver este problema, vi na internet que era um defeito comum no modelo. Mas ao invés de trocar, acabei me acostumando com o defeito, que não atrapalha tanto assim.

No geral o Orion Premium é um telescópio bastante interessante, com um peso adequado a montagens do tipo EQ5, mesmo com o uso de autoguiagem e uma resolução, e aumento bastante adequado para centenas de nebulosas e galáxias. A distância focal de 710mm, gerando uma razão focal de F7 é bastante típica para modelos em sua faixa de preço. Com ele, fiz algumas de minhas melhores imagens, principalmente quando comecei a utilizar uma CCD monocromática com filtros de banda estreita.

Mas a experiência nos torna mais exigentes. Se a ótica do Orion Premium me parecia perfeita no primeiro ano de uso, apresentando apenas um pequeno coma quando os registros eram com câmeras do tipo DSLR, com o tempo eu fui ficando mais chato com as minhas imagens e os halos azuis que apareciam em muitas estrelas mais brilhantes começaram a me incomodar. O Orion Premium é com certeza melhor do que um acromático, mas está longe da qualidade óptica de um apocromático de ponta, deixando o foco no azul bastante distante do foco no vermelho, indicando forte aberração cromática.

A durabilidade do Orion Premium aumentou no momento em que comecei a trabalhar com banda estreita. Curiosamente, apesar de ser um tipo de astrofotografia considerado mais avançado, o registro com o chamado Hubble Palette pode até ser menos exigente quanto a qualidade óptica do telescópio, já que ao trabalhar numa faixa muito estreita da luz o problema da aberração cromática causada pela distensão da luz torna-se bem menos visível.

Já o Refletor Orion UK VX8 foi adquirido no Brasil, por cerca de três mil reais. Aparentemente um excelente preço, já que estava cerca de 900 euros na Europa. Ele foi comprado porque eu sentia necessidade de um telescópio mais rápido e com maior resolução. Apesar de durante muito tempo ter sempre ficado com o pé atrás em relação a refletores, os 200mm de abertura e uma razão focal de F4.5 contra F7 do Orion Premium me atrairam. Com uma abertura quase duas vezes maior e uma velocidade de captura também duas vezes mais rápida que o refrator, o VX8 me prometia um novo mundo de possibilidades em astrofotografia, até mesmo o registro de boas imagens planetárias, algo que o Orion Premium não atendia de forma satisfatória.
O VX8, fotografando planetas na varanda do apartamento.
O que mais me atraiu especificamente no modelo da Orion UK foi o seu peso. A especificação do tubo informava que ele pesava 7 quilos, o que o tornaria bastante adequado para a montagem HEQ5 que uso, mais fraca do que uma EQ6. Além disso, devido a razão focal baixa eu poderia  captar em 5 minutos algo que o refletor levaria 10 minutos. Dobraria a minha produtividade.

É importante dizer que Orion UK e Orion não são a mesma coisa, a primeira é uma empresa inglesa que fabrica seus próprios produtos, enquanto a segunda é uma empresa Americana cujos produtos são quase todos fabricados na China. Antes da compra, eu considerei o fato dos telescópios serem fabricados na Inglaterra como algo bastante positivo, mas depois descobri que a Orion UK é uma empresa pequena e que, apesar de muito bem intencionada, não tem uma fama muito boa no mercado de equipamentos astronômicos.

Quando o refletor VX8 chegou, uma semana após o pedido, eu me deparei com vários problemas. Os anéis de fixação eram de um padrão diferente dos utilizados nas marcas mais populares, e simplesmente não havia dovetail compatível a venda no Brasil. O pessoal do site brasileiro onde ele foi adquirido comprou o telescópio mas não tinha o Dovetail adequado pra ele, que só poderia ser adquirido no exterior. A aquisição de aneis da Sky-watcher e cerca de um metro de fita EVA resolveu o problema, mas a um custo de cerca de 200 reais e uma semana de espera.

Mas o pior foi o focalizador. Sim, de novo ele! Mas ao contrário do Orion Premium bastava olhar para a focalizador do VX8 para ver que ele é péssima qualidade, com um parafuso de pressão que caia dentro do telescópio ao ser apertado, esta peça foi com certeza a maior decepção do VX8. Eu consegui remediar trocando um dos parafusos de pressão do focalizador por um que achei em casa, mas o parafuso que regula a pressão, do outro lado do focalizador, é uma peça de muito ruim, de plástico vagabundo, algo inacreditável para um OTA de 900 euros, e até hoje eu tenho problemas com o produto (Pra variar, ao invés de trocar, eu fico lidando com produto vagabundo!).

Depois fiquei sabendo que o VX8 que comprei era de uma linha que estava sendo trocada por uma segunda geração, que vinha com um focalizador novo, aparentemente melhor. E era esta segunda geração que estava novecentos euros na Europa e não o modelo que comprei no Brasil. Para completar minha insatisfação, descobri que a Orion UK tinha a estranha política de vender seus telescópios com upgrades em sua óptica. E certamente o meu não tinha este upgrade. A Orion UK consegue ser uma empresa bizarra, na minha humilde opinião.

A boa notícia foi que, se a especificação no site da Orion UK apontava que o VX8 pesava 7 quilos, ao colocar na balança ela marcou 6,2 quilos, o que achei muito bom. Este peso me permite guiar com o telescópio com a mesma qualidade que guio com o refrator, já que ao adicionar o peso da levíssima Atik 314L com uma roda de filtros pequena e da guiagem com uma buscadora de 50mm, o peso total do setup astrofotográfico fico em somente 7,6 quilos.

A tal da colimação era uma preocupação constante antes da aquisição do refletor, mas a aquisição de uma ocular Sheshire, produto barato e funcional, tornou a tarefa muito mais simples, embora eu ainda não tenha dominado totalmente o assunto. Só me incomodou o fato de que oVX8 descolima muito fácil. Ele até tem alguns parafusos de trava, mas eles não funcionam bem, deixando o telescópio descolimar mesmo quanto devidamente apertados e até mesmo descolimando o telescópio quando eu aperto eles. Basicamente eu tenho que colimar o telescópio a cada sessão. Um colega, entendido do assunto me disse que isso deve ocorrer devido a flexão do tubo, que não teria uma estrutura suficientemente firme para manter tudo alinhado durante a movimentação do telescópio na montagem. É o peso que paguei pelo telescópio ser leve. A sua maior qualidade também gera um de seus maiores defeitos.

Nas primeiras tentativas com o VX8 eu fiz a besteira de colocar os pés da montagem estendidos, para que o telescópio ficasse mais alto e eu tivesse uma melhor visão do céu, já que minha varanda é cheia de obstaculos que bloqueiam cerca de 60% do céu. Mas logo percebi que o telescópio nunca iria acompanhar corretamente com os pés abertos daquele jeito e percebi que a única forma de usar o refletor seria com os pés do tripé totalmente recolhidos, deixando o telescópio o mais baixo possível. Isso me fez perder um pouco de céu, mas se mostrou a única forma de utilizar o telescópio com tripé.
Algo que gostei muito ao trocar o refrator pelo refletor foi a saída do porta ocular, que pode (e deve) ficar apontada para cima. Isso me deu muito mais segurança ao conectar câmera e roda de filtros a saída da ocular, pois me tira a preocupação de que o equipamento fotográfico solte do focalizador e caia durante a sessão fotográfica. Refratores, quando apontados para cima, deixam o porta ocular apontado para baixo.

Mas maior dificuldade o refletor foi o foco. A razão focal de 4,5 do VX8 torna o foco um desafio, muito maior do que no refrator que é muito mais fechado. Além disso, é comum a câmera simplesmente perder o foco durante a captação, mesmo que o focalizador não se movimente. Mas este problema parece ser comum a todos os refletores, mais sensíveis a mudanças de temperatura que refratores.

A troca do refrator pelo refletor não aconteceu da noite para o dia e na verdade ainda não está consolidada. Eu até tenho gostado de muitas imagens feitas com o VX8. A distância focal não é muito diferente, 900mm contra 710mm do Orion Premium, mas o nível de detalhes que as imagens revelam são superiores, só que as dificuldades que o refletor impoem, se aumentam o desafio, algumas vezes ultrapassam o nível da diversão para se tornarem puramente Stress. É quem me conhece sabe que eu valorizo mais a experiência da astrofotografia do que o resultado em si. E mesmo nos resultados o VX8 perde em alguns pontos. Talvez devido ao peso, ao focalizador ruim, ou ao coma, as estrelas ficam melhor no refrator do que no refletor. No fim estou considerando o refletor ideal para objetos menores, que exigem uma maior resolução, mas o refrator ainda é bom para objetos mais extensos, quando eu quero aproveitar toda a área de captura. Talvez quando eu adquirir um corretor de coma, algo que já devia ter feito, o VX8 torne-se o telescópio predominante nas capturas.

Quanto ao Orion UK VX8, especificamente, é um telescópio problemático. Uma vez um astrônomo veio reclamar comigo por que queria se tornar representante da marca no Brasil, mas como eu estava falando mal da marca (e parece que algumas pessoas consideram este blog importante em termos de equipamentos, o que me deixa feliz) ele estava desistindo disso. Bem, o pessoal do site onde eu adquiri o telescópio já desistiu da Orion UK faz um bom tempo. Acredito que eles sabem bem dos problemas da marca agora.

Quanto a mim, gastei 3000 mil reais com o tubo óptico do VX8, mais 250 com os anéis de fixação e não acredito que vou encontrar outro tubo tão leve quanto ele. Se me entender melhor com o focalizador (ou trocar por um melhor) talvez eu e este telescópio tenhamos longos anos juntos de astrofotografia. Mas o refrator ED, por ser imagens como a Abaixo, não deve ficar totalmente de lado.


Nebulosa da Águia, capturada com o refrator ED de 102mm. O ED ainda irá me proporcionara alegrias.


Imagen cropada dos pilares da criação feita com o refletor, o 200mm parece uma opção melhor para destacar detalhes ou objetos de menor tamanho aparente.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O Cometa Lovejoy


O Cometa C/2014 Q2 Lovejoy está indo embora. É uma pena, mas eu tenho que dizer: desde que comecei na Astrofotografia, no começo de 2011, este foi disparado o cometa mais marcante. Eu o vi brilhar como um farol com binóculos e também observei o seu pontual núcleo com telescópios refletores grandes, uma experiência de que não vou esquecer tão cedo. Se você perdeu a oportunidade, eu lamento, mas não fique triste, o C/2014 Q1 Pan-STARRS vem aí e promete brilhar no meio do ano tanto quanto o Lovejoy brilhou agora. Vamos torcer para as previsões estarem certas.

O mais importante, para este Blog, é que dessa vez, finalmente consegui fazer um trabalho razoável de captura de um cometa. Não foi nada perfeito. Quando o céu esteve limpo, eu estive sem o equipamento adequado ou em áreas com grande poluição luminosa. Quando eu estive com o equipamento certo, numa área sem poluição luminosa, o céu nublou.

É assim mesmo. Minhas fotos ideiais nunca saem tão facilmente, são frutos de várias tentativas, tentando entender os objetos, suas particularidades e lutando contra má sorte e falta de atenção até conseguir chegar no resultado que eu almejo.

Mas felizmente consegui algumas imagens do Lovejoy 2014 que valem publicar aqui:

Esta imagem feita com telescópio refrator de 102mm, com 50 frames de 20 segundos em ISO 3200 foi feita de uma fazenda, no dia 16 de janeiro de 2015, com o céu, infelizmente, repleto de nuvens. 

O Registro acima, também com telescópio de 102mm, foi feito a partir da varanda do meu apartamento. É possível ver o enorme contraste entre o brilho do cometa e o da calda, bem mais pálida, quase não aparecendo na imagem. A captura foi feita com 55 frames de 1 minuto em ISO 800. Um céu mais aberto permitiu uma captura mais calma.



 
O vídeo acima foi feito a partir dos frames usados para compor a imagem anterior

Esta imagem foi realizada do apartamento de um amigo, bem no centro do Àguas Claras, Brasília.


domingo, 17 de agosto de 2014

Sétimo EBA: Análise da Atik 314L+ e mais algumas imagens.



Nebulosas América do Norte (NGC7000) e do Pelicano (IC5070), capturadas durante o sétimo EBA com a Atik 314L+ e lente de 200mm.


Após mais de um ano de uso, dois EBAs e quase uma centena de captações, chegou a hora de fazer a minha análise da Atik 314L+, câmera que adquiri em fevereiro de 2013 e desde então tem sido o instrumento mais importante de minha atividade astrofotográfica tanto aqui do apartamento, como também foi no último Encontro Brasileiro de Astrofotografia, quando, ao contrário do ano passado, a produção com a CCD foi muito superior ao realizado com a DSLR.

A Atik 314L+, ao contrário da minha outra câmera de deep sky, a DSLR Canon T2i, é uma câmera já feita se pensando em Astrofotografia. Na verdade a própria Atik Cameras é um empresa totalmente dedicada a astrofotografia, criada pelo inglês Steve Chambers e pelo português Rui Tripa a menos de uma década. Apesar de tão nova, a empresa já é uma das maiores referências na fotografia de céu profundo. Suas câmeras são simples, leves e mais baratas do que a média do mercado de câmeras astrofotográficas, além de produzirem imagens que batem de frente com as melhores marcas do mercado. Características que foram definitivas para que eu tivesse certeza primeiro que queria uma Atik, para depois escolher entre os modelos da marca.

As características mais importantes da Atik 314L+ são as seguintes:

  • Monocromática: quer dizer que a câmera tira fotos em preto e branco. Isso pode parecer ruim para um leigo em astrofotografia, mas quase todos os astrofotógrafos avançados preferem câmeras monocromáticas às coloridas. Isso por que nas câmeras coloridas os pixels precisam intercalar microfiltros que depois serão interpolados, gerando ruído. Além disso, para cada quatro pixels destas câmeras, somente um é vermelho, diminuindo muito a sensibilidade para a emissão do hidrogênio, da qual são compostas grande parte das nebulosas mais espetaculares. Na câmera monocromática não há interpolação, por isso o ruído é muito menor e todos os pixels captam luz da mesma forma, sem microfiltros à frente,absorvendo o máximo de luz possível.
  • Resfriada: Quer dizer que a Atik não deixa o sensor esquentar quando está fazendo longas exposições. Este recurso não existe nativamente nas DSLRs, onde é preciso sempre tomar um cuidado com a temperatura do sensor, evitando exposições demasiadamente longas e dando bom intervalos entre as fotos. Além de ser necessário cuidados extras na produção dos frames de calibração. A Atik não apenas mantem a câmera resfriada, como permite estabilizar o sensor na temperatura desejada, limitado a 27 graus abaixo da temperatura ambiente.
  • Possuí um sensor pequeno: O tamanho do sensor da Atik 314L+, o Sony ICX285AL  é de 11mm de diagonal, pequeno se comparado com as câmeras que possuem o sensor Kodak Kaf8300, o sensor mais popular atualmente entre astrofotógrafos avançados.Você pode até dizer que o sensor da câmera é o maior entre os sensores pequenos. Seu tamanho é pouco maior do que os sensores da Atik 314e e Atik 320e. Já em relação ao KAF8300, ele é bem menor, tendo menos da metade da área.
  • O sensor ICX285AL da Atik314L+ possui pixels com 6,45 micrômetros, enquanto os pixels do Kaf8300 possuem 5,4 micrômetros. Isso quer dizer que os pixels da Atik 314L+ possuem uma área de absorvição 42% maior. Isso se reflete numa grande sensibilidade. Pra você ter ideia, a câmera mais próxima com pixels maiores, a Atik4000 (quem sabe um dia minha próxima CCD) custa mais do que o dobro da 314L.
  • O sensor possuí 1,3 megapixels. Realmente não parece grande coisa. O KAF8300 tem 8 megapixels de resolução, mas vale lembrar que o sensor da 314L+ é tão bom que não é raro que eu publique imagens com mais de 3 megapixels. Isso devido ao recurso de Drizzle no programa Deep Sky Staker. Vale lembrar que o DSS não conseguiria aplicar este recurso na imagem inteira se a resolução fosse muito maior, me obrigando a aumentar somente um pedaço da imagem e não ela inteira.

A CCD Atik314L+ que utilizo a cerca de um ano e meio. Muito mais leve do que o corpo de uma DSLR de entrada e capaz de produzir imagens muito superiores.


O resultado disso tudo é uma câmera leve, rápida, com pouquíssimo ruído e mesmo que o campo de captura seja pequeno, ele permite mostrar objetos de muito perto com telescópios e fica excelente com o uso de lentes entre 130 e 300mm, ficando menos expostos as falhas de óptica que aparecem nas bordas da projeção de lentes e espelhos. Ou seja, um sensor pequeno é bem menos exigente com a óptica do que um sensor grande. Eu nunca teria uma câmera full frame sem um telescópio e lentes com óptica perfeitas, algo que praticamente nenhum dos meus instrumentos ópticos tem, por isso eles conversam bem com a Atik 314L+. É claro que nem tudo são flores quando se tem um sensor pequeno. Colocar o objeto no campo é mais difícil, o enquadramento é mais delicado, principalmente se você faz registros do mesmo objeto em momentos diferentes, o enquadramento deve estar perfeito para não haver perda de campo. Além disso, a câmera é menos tolerante a erros de foco e alinhamento. Por isso, ter uma CCD com sensor pequeno pede um astrofotógrafo bastante concentrado no que está fazendo. Você pode esconder estes erros numa CCD de alta resolução diminuindo o tamanho da imagem, mas numa câmera com resolução pequena não há muito espaço para reduções na imagem.

A Atik 314L certamente é uma câmera menos popular do que as câmeras com sensor KAF de 8 megapixels. Na época da compra desta câmera eu fiquei muito em dúvida sobre qual câmera comprar. Até por que a diferença de preço entre elas estava praticamente irrisória. Embora reconheça uma certa superioridade do modelo com sensor KAF8300, a 314L+ é mais leve, tem mais sensibilidade e produz imagens com qualidade incrível, sem exigir muito da óptica. Hoje posso dizer que estou muito feliz com a escolha.

A se criticar, somente o plug onde você encaixa a fonte de energia. É com certeza o maior defeito da câmera. Qualquer movimento e a fonte perde contato com a energia. Devia ser algo que ficasse travado na câmera, por que ficar perdendo contato com a fonte pode até levar o aparelho a estragar, principalmente quando o resfriamento está ligado. Onde encontro conectores de 12v com presilha?

Quanto a minha experiência com a câmera, eu tenho me concentrado mais nas imagens em banda estreita. É onde tenho conseguido resultados que me deixam realmente feliz. Eu sei do potencial dela para imagens feitas com RGB, principalmente de galáxias, mas a diferença para uma boa DSLR colorida não assim coisa de outro mundo e o esforço da captura monocromática pode acabar não valendo a pena, mas quando se coloca um filtro H-alpha na frente da câmera, ela vira outra.

A Atik 314L+ conectada ao telescópio durante o Sexto EBA. Esperando para começar a fotografar.


No Brasil, a Atik 314L pode ser encontrada por cerca de 7000 mil reais. Um preço bastante salgado, que faz valer muito a pena comprar no exterior, onde custa pouco mais de 3000 mil reais. Com a diferença de preço da pra ir pegar ela no exterior e passear um fim de semana em Nova York. Como é muito leve, pedir para um amigo que esteja viajando para fora trazer para você não será considerado um abuso por ele. Mas peça para que ele seja cuidadoso.

Eu ainda devo ficar com essa câmera uns dois anos, para tirar tudo dela que eu puder. Depois disso, talvez pense num upgrade para um modelo com sensor maior, uma Atik 4000 ou 11000. Se alguém me pedir uma sugestão se deve comprar a Atik 314L+ ou a Atik 383, eu certamente irei sugerir a compra do modelo com sensor KAF8300 pelas vantagens e facilidades de um campo maior e mais resolução. A compra de uma 314L+ deve ser analisada com mais cuidado. Mas a verdade é que no momento, pela sensibilidade, pela leveza e eficiência, estou mais do que feliz com a minha CCD.

NGC 6188, capturada no sétimo EBA, com a Atik 314L+ e telescópio de 102mm.