terça-feira, 28 de julho de 2015

Voltando do Oitavo Encontro Brasileiro de Astrofotografia

Com alguns dos participantes do encontro durante a tarde.


Há pouco mais de uma semana eu retornei do 8° Encontro Brasileiro de Astrofotografia, ou EBA. Pra quem não sabe o que é, trata-se de um encontro realizado anualmente pelo Clube de Astronomia de Brasília - CASB, onde astrofotógrafos de muitos lugares do Brasil se encontram num local sem poluição luminosa, para produzirem algumas das melhores imagens de céu profundo publicadas por brasileiros durante o ano e também para trocarem experiências.

O encontro não possui caráter competitivo. Não há uma eleição para melhor foto, melhor conjunto da obra, equipamento mais bonito, nem coisas do tipo, já que definir qual astrofotógrafo é melhor ou qual imagem é superior é algo subjetivo demais para ser avaliado. Os astrofotógrafos se reúnem principalmente para aproveitar o céu escuro e enriquecerem o seu portfólio de astrofotografias, além de trocarem experiências e conhecimento. É comum você ouvir entre os praticantes mais experientes que uma noite de EBA equivale a um ano de astrofotografia sozinho.

Os outros quatro encontros que participei ocorreram numa pousada próxima a Alto Paraíso, com o melhor céu que já vi, mas os altos preços que a pousada insistia em cobrar, aliado a total deficiência em infraestrutura, acabaram desanimando muito o CASB de realizar o encontro no mesmo local outra vez. Só pra se ter ideia, durante estes quatro encontros a administração da pousada jamais se preocupou em sequer arrumar o banheiro do restaurante, obrigado os hóspedes a fazerem fila na sala de televisão da dona da pousada enquanto esperam pela vez de usar o banheiro da casa.

Mas encontrar um lugar que substituísse a pousada em Alto Paraíso nunca foi fácil, o Clube está há anos explorando a região da Chapada dos Veadeiros em busca de um local alternativo para a realização do EBA. Infelizmente encontrar este local é bem mais difícil do que pode parecer num primeiro momento. A grande maioria das boas pousadas parece ser incapaz de entender as necessidades de um encontro como este e as poucas que entendem não tem a estrutura necessária - uma área ampla e plana para instalação dos telescópios, sem obstáculos ao horizonte, ausência de luzes próximas, ausência de hóspedes que não estejam envolvidos com o encontro, entre outras coisas.

Este ano surgiu uma oportunidade quando um dos sócios do clube ofereceu uma fazenda de sua propriedade, próxima a Padre Bernardo - GO para a realização do evento. É claro que por ser um local mais perto de Brasília, o céu não era como o da Pousada em Alto Paraíso, mas o conforto e a atenção do proprietário, com atitudes como, servir o Almoço a partir das duas da tarde, para que todos pudessem dormir o suficiente e desligar qualquer luz que pudesse atrapalhar o evento, fizerem a mudança valer a pena. O fato dele também ser um praticante de astrofotografia faz com que entenda todas as nossas necessidades ou manias.

Para minha surpresa, mesmo com o eixo de ascensão reta perfeitamente alinhado com o pólo, o refletor de 200mm deu muito trabalho sobre a HEQ5.
Infelizmente para mim, em termos de produtividade, este foi um dos piores EBAs. O sistema de autoguiagem, que funcionou tão maravilhosamente no ano passado, com o Refrator de 102mm, não se entendeu com o Refletor de 200mm. Eu levei três dias até conseguir uma guiagem aceitável e quando ela começou a funcionar bem, o céu, que já vinha com muitas nuvens, ficou ainda mas fechado. Sim, este foi um EBA com muitas nuvens. O do ano anterior já não havia sido muito bom e de jeito que o céu de Brasília anda nos últimos dias, fica parecendo que aqueles três meses sem nuvens que tínhamos entre junho e agosto estão deixando de acontecer por aqui. Será culpa do aquecimento global, do El Nino ou da Dilma?

Uma coisa legal no encontro é que adquiri um Skytracker da Ioptron logo no segundo dia, de um colega que tinha comprado ele, mas logo adquiriu um outro Tracker, mais avançado. Eu vou falar destes aparelhos num post em breve. O Skytracker serve para fotografia com lentes, permitindo à câmera acompanhar o movimento do céu. Foi um grande avanço em relação a EQ-1, que usei no primeiro dia. As imagens feitas com este equipamento salvaram algumas noites, em que o refletor e a montagem HEQ5 pareciam se recusar a colaborar. Com ele fiz algumas boas imagens, como uma composição com as principais nebulosas do Cinturão de Orion com lente de 200mm no fim deste post. Foi uma pena que muitos registros com lentes ficaram contaminados por nuvens muito ralas, imperceptíveis a olho nu, mas visíveis em capturas em longa exposição.

Eu com certeza quero voltar ano que vem e nos anos seguintes. A gente nunca consegue produzir a metade do que planeja para o EBA e sempre sai de lá com vários objetos que gostaria de ter registrado e não teve a chance. No mais, parabenizo o Clube de Astronomia de Brasília e o proprietário da fazenda por terem mais uma vez proporcionado aos astrofotógrafos Brasileiros a chance de se encontrarem num local tão adequado a nossa atividade. Só espero que nos próximos anos as nuvens colaborem um pouco mais durante o evento e eu não apanhe tanto do equipamento!!

Um Skytracker da Ioptron foi adquirido de um dos participantes do evento e usado sobre a EQ1, que funcionou somente como tripé.

Imagem capturada com a Canon sobre o Skytracker. uma lente de 200mm F4 da Nikon foi emprestada por um amigo para a captura.