terça-feira, 31 de março de 2015

A aquisição de equipamentos astronômicos no Brasil

"Aproveitando" este momento de dólar alcançando níveis "astronômicos, resolvi falar de algo que já era difícil e agora ficou ainda pior: a aquisição de equipamentos de astronomia amadora na Brasil.

Não é de hoje que comprar telescópios, montagens, câmeras e acessórios para Astronomia e Astrofotografia é uma grande dificuldade no nosso país. Na verdade, posso até dizer que antes dos últimos acontecimentos a situação até vinha melhorado de forma lenta, mas constante. Eu lembro muito bem do primeiro telescópio aceitável que comprei, em 2003. Era um refrator acromático de 90mm F10 da Orion, com montagem altazimutal sem motorização. Era um belo telescópio para a época. Eu praticamente não tinha um amigo que tivesse algo parecido, custou cerca de 1700 reais (mais de 3 mil em valores atualizados) e levou cerca de dois meses para chegar. Hoje ainda é possível comprar um Maksutov de 90mm com montagem equatorial e com motor por cerca de mil reais no Armazém do Telescópio.

Na época da aquisição do meu refrator de 90mm praticamente só havia um lugar para se comprar telescópios decentes no Brasil, o site Brasil Hobby. Hoje há pelos menos 4 sites aceitáveis, o Armazém do Telescópio, o Caleidocosmo, o Tellescopio.com e o Astroshop.
Com a alta do Dólar, é assim que os telescópios
começam a parecer para nós braileiros!
O Armazém do telescópio é certamente, e disparado, o melhor site Brasileiro para se adquirir equipamentos astronômicos. Posso até dizer, o que muitos astrônomos amadores experientes reconhecem, que o Armazém do Telescópio tem feito um trabalho dos mais importantes na propagação da astronomia amadora no Brasil. Na astrofotografia eles tem papel fundamental na popularização e avanço da astrofotografia planetária amadora a níveis internacionais com a disponibilização de câmeras astrofotograficas planetárias de 16bits a preços bastante acessíveis, como as ZWO e as Expanse, permitindo até mesmo astrofotógrafos amadores jovens produzirem trabalhos admiráveis, como o caso do astrofotógrafo Flávio Fortunato.

O Caleidocosmo e o Tellescópio.com vieram na onda no Armazém, em geral, e de forma inteligente, estes sites atacam aonde o Armazém é menos relevante, principalmente em Astrofotografia de céu profundo a nível avançado. O Tellescopio.com tem sido mais feliz em suas escolhas, em especial pela aquisição das câmeras da QHY, que chegam ao Brasil a custos muito próximos aos que câmeras semelhantes custam no exterior. O Tellescopio.com também organiza o interminável Concurso Nacional de Astrofotografia, que começa no início do ano e termina uns dez meses depois, fazendo propaganda do site deles mas também ajudando a divulgar a Astrofotografia Amadora brasileira. O Caleidocosmo investiu em telescópios de ponta, mas comete o erro de investir em marcas pouco conhecidas e sofreu ao adquirir câmeras equivocadas, como ultrapassadas Imaging Source bem na hora que chegavam as ZWO no Armazém, além de câmeras da Atik com sensores muito pequenos e preços mais elevados em relação à concorrente QHY vendida no Tellescopio.com. De qualquer forma torço para que o site continue a acerte mais no futuro.

Por fim temos o Astroshop. Na verdade este site é um desdobramento do antigo Brasil Hobby. O Astroshop não é bem visto por muitos astrônomos amadores, mas tenho que admitir que fiz muitas compras com eles e não me arrependi de quase nenhuma, como a montagem CG5 e uma EQ1 que, diga-se de passagem tinha uma motorização muito melhor do que a atual, que comprei no Armazém do Telescópio. Mas o site esta quase todo fora de estoque, sendo que muitos itens aparecem há muitos e muitos anos como em falta e não há qualquer perspectiva de reposição.

Por falar em estoques, esse certamente é o ponto mais negativo dos sites Brasileiros. Geralmente quase tudo está em falta e os produtos ficam uma eternidade ausentes. Quando um equipamento esgota sabemos que provavelmente já era. Talvez sejam anos até aparecer de novo, isso se simplesmente não sair do catálogo.

Adquirir um equipamento de astronomia amadora ainda é uma dificuldade enorme no Brasil, até mesmo para quem tem boas condições financeiras. A realidade que quase todos os astrônomos amadores vivem em nosso país é a de esperar, esperar e mais esperar, acessando constantemente os principais sites brasileiros até o momento em que algo novo apareça. Muitas vezes os equipamentos que surgem nem são aqueles que queríamos, mas na falta de opções temos que aceitar o que nos é disponibilizado. Pelo menos vai chegar em poucos dias, vai dar pra parcelar e você não vai precisar se aventurar no exterior. Outras vezes o equipamento ideal surge, mas nos pega num momento ruim, naquela semana em que você bateu o carro, descobriu que sua namorada está grávida, ou simplesmente estourou o cartão de crédito. Então você é obrigado a deixar passar, mesmo sabendo que talvez nunca mais veja aquele equipamento novamente.

Em redes sociais e fóruns, há alguns grupos de venda de equipamentos astronômicos usados. Em especial no Facebook. Os maiores são o Mercado de Astronomia e o Brechó de Astronomia. Para você ver a importância que dou ao assunto, estes grupos são dois dos únicos três em que em todas as notificações estão ativadas em minha conta, o outro é o Astrofotógrafos do Brasil, grupo que sou proprietário e que convido somente os melhores astrofotógrafos amadores que conheço ou pessoas relevantes para a área.

Cada vez que recebo uma notificação destes grupos de venda de equipamentos astronômicos eu corro pra ver o que apareceu, sempre na esperança de ver algo realmente interessante, mas a situação não é diferente dos sites. Quase sempre que surgem boas oportunidades, eu estou sem dinheiro. Um sintoma da situação de mercado de equipamentos astronômicos no Brasil é que nestes grupos não raro produtos usados surgem com preços superiores ao que era pedido pelo produto novo, quando estava disponível no site. Afinal, o vendedor sabe que  o comprador não vai encontrar em outro lugar. A lei da oferta e procura é implacável no Brasil.

É uma situação que mostra que, se a situação melhorou nos últimos anos, não quer dizer que ainda não seja desoladora para nós brasileiros, principalmente quando comparamos com o mercado em países desenvolvidos. Um brasileiro que navegue por sites como o da OPTcorpTelescope-Express ou mesmo Telescope.com fica com vontade de chorar (ou babar!), tamanha a diferença de opções em telescópios, câmeras e acessórios. Isso sem contar os preços, que são em média menos da metade do que pagamos aqui no Brasil, mesmo os países de origem destes sites tendo rendas per capita várias vezes superiores à nossa.

A OPTcorp e o Telescope-Express estão entre os poucos sites que entregam para o Brasil. Mas os impostos são altos, o frete pode ficar mais caro que o produto para equipamentos de maior peso e volume como telescópios grandes e montagens, e o pessoal da Alfândega geralmente libera o produto quando quer. Do momento em que o produto sai da loja até a chegada em sua cidade sua compra está numa zona obscura, aonde corre o risco de ficar por meses. além disso, está limitado a cota de 500 dólares, para não ter que se preocupar com burocracia ou pagar taxas altíssimas. Eu geralmente recorro a sites estrangeiros somente quando estou em busca de acessórios pequenos, como filtros e adaptadores, sempre abaixo dos 500 dólares.

Alguns vão dizer que viajar para o exterior e comprar tudo lá é a solução para todos os problemas. Mas não é fácil assim. Ir para o exterior para comprar equipamentos astronômicos pode parecer algo trivial para quem tem muito dinheiro ou para quem viaja muito para outros países as custas da empresa que trabalha ou tem sempre outros motivos para sair do país. Mas para alguém de classe média, tirar passaporte, visto, pagar passagem de avião, hotel, taxi, seguro viagem e correr o risco de ser taxado na alfândega ou ficar limitado a irrisória taxa de quinhentos dólares para compras no exterior, parece mais medida de desespero do uma decisão inteligente. A compra no exterior é uma ótima solução, o problema é que não é para todos.

Por fim ainda temos o pior ramo do mercado de equipamentos astronômicos no Brasil, aquele que se aproveita do total desconhecimento de grande parte dos compradores destes equipamentos, vendendo binóculos e telescópios inúteis ou de péssima qualidade em shoppings, lojas de departamento e feiras do paraguai, entre outros lugares.

Uma questão complicada para os astrônomos amadores é uma empresa que possui um grupo de sites na internet, entre eles Binoculos.net, Astrobrasil e Casa do Astrônomo, além de alguns outros que devem existir por aí. É possível chegar a um deles, inclusive, se você digitar www.armazemdostelescopios.com.br, pois o site tenta pegar quem estava procurando pelo Armazém do Telescópio (no singular). Esse grupo trabalha com a marca Toya e outras semelhantes, segundo eles, Toya é o telescópio mais vendido do Brasil. Bem! A propaganda da Tekpix também dizia que ela era a câmera mais vendida do Brasil.

Eu não vou cair de pau nas lojas. Quem tem comprado delas não tem reclamado de falta de entrega. Eu também nunca tive um telescópio da Toya, então o que posso dizer é o que vejo nas redes sociais. Procuro ignorar aqueles que estão apenas repitindo o que ouviram ou leram e prestar atenção nos donos destes delescópios.  Algumas pessoas tem conseguido bons resultados com telescópios da Toya, outras não conseguem nada, outros até elogiam a óptica mas reclamam veementemente da mecanica do telescópio, dizendo que estão desmontando após o primeiro ano de uso. Pra mim, é fácil ver que as montagens são subdimensionadas e que um telescópio de 200mm F3,9 cujo focalizador nem sequer é de duas velocidades é algo temerário.

Em termos de mercado o mais importante é saber que se você adquirir um telescópio da Toya, Greika ou similares, você adquiriu um mico, um produto que terá dificuldades para vender, que terá que passar pra frente por um preço muito inferior ao que comprou ou encontrar um comprador bastante leigo no assunto.

Por fim temos os ATMs, ou Amateur Telescope Maker, que são astronômos amadores que também fazem telescópios e comercializam sua produção sem realmente tornarem-se uma marca ou empresa. Nos anos noventa esta era provavelmente a melhor forma de se adquirir um telescópio no Brasil, quando não a única. Este também é um assunto complexo de falar. Eu não acompanho muito o trabalho dos ATMs atuais. Não há um site de vendas de telescópios de ATMs. Alguns até tem sites e você pode encomendar, mas tem que entrar em contato diretamente com eles. Outros praticamente se aposentaram ou já aparentavam estar em idade muito avançada em sites publicados vinte anos atrás e nem sei se estão vivos hoje. Um que conheço, é respeitado e sei que está bastante ativo é o Sandro Coletti. Ele inclusive trabalha em parceria com o Armazém do Telescópio e me pergunto se no futuro não veremos telescópios da marca Coletti à venda, algo que eu acharia muito interessante. Todos sabemos que em crises também surgem coisas boas e quem sabe, com a desvalorização do real o resultado seja algo bom. O Armazém tem vários projetos que você pode acompanhar clicando aqui.

Este texto não esgota todo o tema, mas é uma compilação do que acho mais relevante no momento. Tentei ser o mais justo possível com todos os envolvidos, já que não tenho relacionamento com nenhuma das empresas acima, a não ser como um consumidor exigente e às vezes até chato. Espero que tenham apreciado o texto. Enquanto isso eu vou aguardando ansiosamente o fim das chuvas em Brasília.

domingo, 1 de março de 2015

Yes! Nós temos planetas!


Júpiter, registrado na noite de 25 de fevereiro, por volta das onze horas, da varanda do meu apartamento. Telescópio: Refletor de 200mm, câmera: Expanse 120 mono.


E eu sigo na minha saga para conseguir boas fotos planetária! Enquanto a Via Láctea ainda surge somente no fim da madrugada,eu vou aproveitando para praticar este tipo de fotografia, que tem se mostrado muito diferente da fotografia de céu profundo.

Aos poucos vou melhorando. Voltei à astrofotografia planetária porque ia falar sobre ela no livro de astrofotografia que estou escrevendo e sentia falta de uma boa imagem planetária para ilustrar os capítulos referentes a este tipo de registro. Eu achava que sabia o suficiente sobre astrofotografia planetária para falar sobre o assunto, só não tinha uma imagem boa porque nunca tive um bom setup planetária.

A verdade é que estou descobrindo que realmente sabia muito pouco sobre astrofotografia planetária e minhas divagações sobre o assunto no livro seriam incrivelmente pobres. Estas últimas noites ao lado do refletor e da excelente câmera Expanse, e muitas outras processando imagens, tem se mostrado uma verdadeira escola pra mim. E tenho certeza que vou conseguir passar muito deste aprendizado no livro.

Enquanto vou aprendendo, deixo aqui meu melhor registro até agora, que mostra a grande mancha vermelha com bastante destaque. Trata-se de uma composição RRGB, em que o filtro vermelho tem duas funções, dar a cor vermelha e é responsável por todos os detalhes da imagem. Eu estou tendo algumas dificuldades com o filtro de Luminance, que teoricamente teria esta função. É muito comum até astrofotógrafos bastante avançados usarem o filtro vermelho para compor o Luminance, mas eu sinto que é possível resultados ainda melhores quando eu me entender com o filtro de Luminance. Espero em breve conseguir estes registros.