A técnica de astrofotografia de céu profundo em tripé fixo é uma das que acho mais interessantes em Astrofotografia, embora não pratique com tanta frequência. É de longe a forma mais barata e portátil de se fotografar o céu profundo. Para isto basta uma câmera DSLR, um tripé razoável que pode até ser dispensado com criatividade (eu às vezes simplesmente uso livros ou tijolos para posicionar a câmera) e, isso é muito importante, um céu bem escuro, longe da poluição luminosa e sem sinal da Lua em fases brilhantes.
Nas festas de ano novo eu visitei a chácara de meus pais. Sem espaço no carro, levei apenas a câmera, algumas lentes e o tripé fotográfico que me acompanha faz alguns anos, comprado por cerca de 300 reais na feira dos importados, em Brasília. Com alguns dias apresentando céu limpo, matei a vontade de astrofotografar com essa técnica.
A maior limitação quando se fotografa em tripé fixo é o tempo de exposição. Como não há acompanhamento, suas fotos não podem passar de poucos segundos, caso contrário, as estrelas começarão a apresentar rastros. É chato ter essa limitação de tempo, mas ela não impossibilita a fotografia. O milagre acontece através do empilhamento dos frames, no Deep Sky Stacker, ou outro programa de empilhamento. Com muitos frames, o ruído causado por ISOs elevados praticamente desaparece, por isso, para tripé fixo não é necessário ter vergonha de colocar o ISO na casa dos 6400, afinal, em astrofotografia eu aprendi que informação ruim é melhor do que informação nenhuma. Eu aconselho algo em torno de 50 frames para uma imagem com bem pouco ruído.
Ter uma lente rápida também ajuda na captação em tripé fixo. Como uma lente de abertura F2 é quatro vezes mais rápida do que uma F4, fotografar com lentes de boa abertura lhe permite grande vantagem em relação às lentes mais lentas. Boas lentes para tripé fixo, são, por exemplo, a 50mm F1.8, a 135mm F2.0 e a 200mm F2.8, entre outras. De todas elas, a 50mm F1.8 se destaca pelo excelente custo benefício, podendo ser encontrada por valores entre 400 e 500 reais no mercado livre ou feiras do Paraguai.
A 50mm F1.8 foi justamente a lente usada nas imagens abaixo, ainda mais por que vendi a minha 135mm F2.0 faz algum tempo e não estou com dinheiro para comprar a sonhada 200mm F2.8. Com um grande campo devido ao pouco aumento da lente, eu procurei alvos grandes para registrar. A Grande Nuvem de Magalhães, bastante alta no céu nesta época do ano era um objeto adequado, já o cometa C/2014 Q2 Lovejoy, centro das atenções dos astrônomos amadores neste começo de ano, embora pequeno para a lente, era um alvo inevitável.
A imagem da GNM foi feita com 100 frames de 8 segundos, enquanto o Lovejoy foi captado com 50 frames de 5 segundos. Os frames da GNM são maiores, porque o objeto está mais próximo do Pólo Celeste e ali as estrelas correm mais devagar, já o cometa estava bem perto do equador celeste e ali as estrelas correm rápido. Se eu tentasse frames mais longos as estrelas apresentariam rastros.
Abaixo, as duas imagens:
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Cometa C/2014 Q2 Lovejoy - fotografado com lente de 50mm em tripé fixo. 50 frames de 5 segundos em ISO 6400, com a lente aberta no máximo (F1.8) |
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Grande Nuvem de Magalhães, com 100 frames de 8 segundos, com a lente de 50mm em F2.8 |