sábado, 22 de março de 2014

Hyperstar: um acessório interessante para astrofotógrafos com telescópios Cassegrain

Telescópios do tipo Schmidt-Cassegrain são celebrados pela sua qualidade óptica, mas infelizmente, para céu profundo não são tão populares. Devido a sua grande distância focal, as capturas são muito mais lentas do que em telescópios refletores, refratores apocromáticos ou lentes fotográficas.

Alguns astrofotógrafos, inclusive bastante avançados, utilizam redutores focais, que diminuem bastante a distância focal dos Cassegrains, aproximando da distância focal de um refletor ou refrator apocromático (algo entre F6 e F8). Se reduzir além disso, a qualidade óptica começa a ser prejudicada. Mas existe um acessório que consegue reduzir a distância focal dos Telescópios Cassegrain para até incríveis F2.0, tornando-os tão luminosos quanto as melhores (a caríssimas) lentes teleobjetivas de grande porte. Chama-se Hyperstar.

Trata-se de um adaptador feito para ser conectado não no porta-ocular de um telescópio Crassegrain, mas no lugar do espelho secundário, que fica preso a lente corretora deste tipo de telescópio. Neste adaptador você conecta a câmera, diminuindo muito significativamente a distância entre o sensor e a objetiva. Com um Hyperstar, um Celestron C8, por exemplo, passa a ter sua distância focal alterada de F10 para  F2, tornando-se 25 vezes mais rápido (conforme o site da fabricante).



Telescópio Cassegrain com Hyperstar no lugar do espelho secundário. Repare que a câmera, bem estreita, é um modelo já construído para ser utilizada com o acessório.

É um acessório fantástico para quem quer velocidade e principalmente, não quer usar a sempre manhosa Auto Guiagem. Imagine poder conseguir com frames de 30 segundos, o que você precisaria com frames de vários minutos de exposição. Você consegue 100 frames num tempo em que conseguiria 5. Mais frames significam menos ruídos e detalhes muito mais evidentes.

Mas vale lembrar duas coisas muito importantes, a primeira é que a redução da distância focal também reduz o aumento. Um C8 passará a ter sua distância focal reduzida de 2 metros para meros 40 centímetros, distância focal de uma teleobjetiva ou de um pequeno refrator apocromático, tornando-se um telescópio mais adequado para grandes nebulosas do que para galáxias distantes e nebulosas planetárias (para isso, um redutor focal seria mais adequado, embora com ele o telescópio não fique tão rápido).

Além disso, como a câmera vai ficar na frente do telescópio e não atrás, você deve evitar usar câmeras muito grandes, pois estas bloqueariam a entrada de luz, prejudicando a velocidade do telescópio. Pensando nisso, muitos fabricantes de câmeras astrofotográficas têm construído modelos bastante finos, como a QHYL e a Atik, feitos especialmente para serem usados com Hyperstar.

Também está longe de ser um acessório barato, o mais barato, para um Cassegrain de 6 polegadas, custa 600 dólares com o adaptador para câmera, quem quer colocá-lo num telescópio de 14 polegadas, terá que desembolsar 1400 dólares, e ainda terá que comprar o kit de conversão para telescópios mais antigos, que não é simples, mas segundo o site da empresa, acessível ao consumidor normal com um manual bem detalhado.


Essa impressionante imagem da nebulosa IC1396 foi captada pelo usuário Bradisback do Astrobin, com um Cassegrain de 11 polegadas equipado com um Hyperstar. Foram 40 grames de apenas 3 minutos. Algo impensável sem o uso do acessório.

Sem filtros de banda estreita, a fotografia de nebulosas mais brilhantes pode ser feita com frames curtíssimos. Essa imagem da Nebulosa da Lagoa foi feita com 30 frames de 30 segundos, totalizando menos de 15 minutos de exposição. Aqui, o Hyperstar equipava um Schmidt-Cassegrain de 14 polegadas. Autor: Usuário TC-Fenua, Astrobin.

 Onde Encontrar:
E em outras lojas de equipamento astronômico, além de fóruns de astronomia e sites de leilões estrangeiros

quarta-feira, 5 de março de 2014

Qual câmera para astrofotografia você pode comprar por até 1500 reais?

No post anterior eu falei sobre câmeras até 500 reais. Agora quero falar sobre a faixa de câmeras imediatamente acima, onde os modelos estão em valores que vão de 800 a 1500 reais. Para quem tem condições financeiras e vontade para gastar um pouco mais de mil reais numa câmera para astrofotografia, o mundo costuma ser bem mais feliz do que para quem só pode ou quer gastar 500 reais neste equipamento. 

Falando de forma mais séria, a experiência com astrofotografia pode começar de forma muito mais gratificante quando você tem 1500 reais na mão. Para fotos planetárias você não vai precisar mais recorrer a uma Webcam e sim usar uma câmera feita para o trabalho e, acreditem, uma câmera de primeira linha que você dificilmente trocará por outra mais cara no futuro. Para fotografia de céu profundo você não precisará recorrer a uma DSLR fabricada 20 anos atrás. Pode comprar um modelo de entrada novo ou uma um pouco melhor seminova. Só não vai poder comprar na Fnac e sim no Mercado livre ou na Feira do Paraguai mais próxima. Se estiver disposto a comprar uma DSLR mais antiga, tem chance até de conseguir uma modificada para astrofotografia, de algum astrofotógrafo que decidiu fazer um upgrade, desistiu da astrofotografia ou simplesmente morreu de velhice.

Uma câmera de vídeo planetária de ponta

Primeiramente uma explicação: Porque quando me refiro a câmera planetárias, normalmente as trato como câmeras de vídeo e não fotográficas? A resposta é simples, as boas imagens planetárias são feitas com empilhamento de centenas ou mesmo milhares de fotos, então a forma mais rápida de se conseguir muitos frames é filmar o planeta e não fotografá-lo.

O problema é que para planetas, principalmente quando o conjunto Câmera+Telescópio for capaz de pegar muitos detalhes, está filmagem não pode demorar muito, senão a rotação do planeta pode começar a borrar a imagem. Sendo assim, quanto mais rápida for a câmera, mais frames você conseguirá para empilhar antes da rotação do planeta afetar sua imagem. Para Júpiter, por exemplo, está necessidade é crítica devido à intensa atividade atmosférica do planeta.

Por isso, as câmeras capazes de fazer mais frames por segundo são as preferidas. Alguns astrofotógrafos conseguem bons resultados a 10 frames por segundo, às vezes até menos, mas isso não quer de forma alguma dizer que elas não ficariam melhores com mais frames, muito pelo contrário.

Até alguns pouquíssimos anos atrás (1 ou 2), quem quisesse uma câmera planetária de ponta tinha que adquirir uma Imaging Source. O modelo mais popular era a DMK21, com resolução de 640x480, capaz de gravar 60 frames por segundo e que custa cerca de 450 dólares no exterior. Para astrofotógrafos mais avançados, a Skynix 2.0, da Luminera, cujo modelo mais barato custava mais de mil dólares, era a escolha.
A ASI120 da ZWO

Mas no ano passado  surgiu uma nova opção: as câmeras ASI da ZWO, que chegaram ao Brasil através do Site Armazém do Telescópio. O pioneirismo do Armazém é merecedor de elogios, quando  o site passou a vender as câmeras, praticamente ninguém tinha ouvido falar delas e no começo as ASI foram vistas com muita desconfiança. Hoje são as câmeras preferidas dos astrofotógrafos planetários brasileiros, com destaque para as ASI120mm e sua equivalente colorida, a ASI120mc, que custam cerca de mil reais no Armazém e 300 dólares no exterior.

Na época do lançamento no Armazém do Telescópio, pesquisas no Google mostravam muitas poucas imagens feitas com as ASI120. Quase todas vinham acompanhadas com textos escritos em línguas orientais totalmente incompreensíveis para quem, como eu, mal consegue falar inglês. Mas a qualidade dessas imagens, aliadas a preços muito mais em conta do que as concorrentes, mais a versatilidade da câmera, que permitia filmar em resoluções variadas, enquanto as concorrentes só filmavam na resolução nativa, o que permitia as ASI120 atingirem velocidades incríveis (até 215 frames por segundo na resolução 320x240), logo fez com que as ZWO se tornassem populares.

Hoje, é fácil ver até mesmo astrofotográfos avançados, possuidores de câmeras da Luminera adquirindo as câmeras da ZWO. Inpressiona ainda mais ver alguns usuários conseguindo imagens planetárias com os modelos coloridos que não deixam nada a dever às feitas com câmeras monocromáticas.

Mas não foi somente a ZWO que chegou no Brasil. Através do site Tellescopio.com, a QHY também deu as caras com modeles muito interessantes. O modelo planetário da marca é a QHY5. A câmera tem basicamente o mesmo sensor da ASI120, o MT9M034 CMOS de resolução 1280x960pixeis e também filma mais rápido na resolução menor.

Vale lembrar que resolução menor pode parecer algo negativo, mas é irrelevante quando o planeta ocupa somente um espaço pequeno no campo de captura do sensor. A diminuição da resolução faz com que a câmera filme apenas naquele pedaço onde está o planeta e preserva a qualidade da área de captura.

A QHY5 é vendida por cerca de 1000 reais no Tellescopio.com.br. Esta câmera tem se popularizado menos do que o modelo da ZWO, mas parece ter qualidade e preços bastante equivalentes. O fato da ZWO ser vendida pelo Armazém de Telescópio, há anos o site mais popular em equipamentos de astronomia, tem pesado muito a favor das ASI.

Júpiter, fotografada pela ASI120mc do Flávio Fortunato. Esta imagem impressiona por ter sido feita com uma câmera colorida, além disso, foi captada por um telescópio de 10 polegadas em montagem dobsoniana, sem acompanhamento.

Saturno, com a QHY5 num telescópio de 12 polegadas, captura por Avani Soares.


Uma DSLR de entrada nova


Com até 1500 reais é possível também entrar no mundo da fotografia de céu profundo com uma DSLR razoável. Com esta grana você consegue comprar uma Canon T3 no Mercado Livre. Para quem está interessado em céu profundo, é uma compra que vale muito a pena, talvez a mais indicada. Com um sensor muito maior do que câmeras compactas ou superzoons, a Canon T3 consegue imagens com muito menos ruído e com tempos de exposição maiores. Possui um adaptador simples e fácil de encontrar que permite conectá-la a praticamente qualquer telescópio, mas também fotografa muito bem quando usada junto com boas lentes, além de poder ser usada numa montagem mais leve e ser mais portátil nessa condição. A fotografia com lentes é muito indicadas para nebulosas de campo aparente maior, como Ámérica do Norte, Rho-ophiuchi, entre outras.

Mas por que uma DSLR da Canon e não de outras marcas? Principalmente a Nikon. A resposta é que a Canon é muito mais popular entre os astrofotógrafos do que as outras marcas. Isto resulta em mais acessórios e programas compatíveis, e também mais informação sobre técnicas e modificações. Além disso, a Canon é a única entre as fabricantes que deixa explícito saber que a astrofotografia é um mercado para seus produtos, ao fabricar modelos feitos especialmente para o uso em astrofotografia, como a 60Da. Fora isso, quanto a sensibilidade e qualidade de imagem, não é possível dizer que a Canon é superior a seus concorrentes, principalmente à Nikon.

Nesta imagem, com um telescópio de 10 polegadas e uma NEQ-6, o astrofotógrafo Eduardo Bueno  tirou o máximo de sua Canon 1000D, modelo anterior à T3.


Uma DSLR um pouco mais avançada, usada.

Sim é possível comprar até uma T3i nessa faixa de preço,se for usada. Uma das diferenças da T3i em relação a T3 é o sensor de 18 megapixels, mas imagens feitas com DSLRs com sensores de APC de 12 megapixels não tem deixado nada a dever às feitas com sensores de 18 megapixels. Então acho que o sensor não é tão determinante na escolha, me fazendo preferir uma T3 nova do que uma T3i usada. Já para quem vai fotografar sem computador, o LCD móvel é de grande ajuda para o registro de objetos próximos ao zênite.

M16 fotografada com a Canon T2i (equivalente a T2i), antes da modificação, com um refrator de 4 polegadas.


UMA DSLR modificada usada de um astrofotógrafo

Já foi falado neste blog sobre a importância de se modificar sua DSLR, retirando o filtro original à frente do sensor, que bloqueia grande parte da luz vermelha emitida por nebulosas de emissão, por outro que deixe toda a luz das nebulosas passarem. Essa modificação tem sido a grande dificuldade dos novos astrofotógrafos Brasileiros. Poucos são os que julgam ter condições de realizar esta modificação (eu inclusive) sendo necessário a ajuda de um profissional em equipamentos fotográficos para a realização da alteração. Além de ser difícil achar um profissional capacitado, mais difícil ainda é encontrar o filtro, que tem de ser importado e exige pesquisa para a compra do modelo correto.

Uma boa alternativa é a compra de uma DSLR já modificada. Encontrar uma DSLR modificada por menos de 1500 reais não é algo fácil, mas às vezes acontece. Astrofotógrafos estão sempre fazendo upgrades e querendo equipamentos melhores, alguns acabam saindo da atividade por motivos particulares, outros estão simplesmente precisando de dinheiro. Então se você ficar experto, vai acabar encontrando uma.

Os melhores lugares para se encontrar uma DSLR modificada usada são em fóruns de astronomia ou astrofotografia. Há bons grupos do Facebook, como o Mercado de Astronomia, ou o Brechó de Astronomia onde há chance de uma aparecer por lá. Você também pode procurar em fóruns no exterior, como o CloudyNights ou Astromart. Mas não espere encontrar modelos mais recentes por até 1500 reais. Vai ter que ser uma DSLR antiga, provavelmente sem o útil live view e você ainda vai ter que dar um jeito de escapar dos impostos se não quiser pagar mais do que isso por sua DSLR.

Em resumo, ter uma DSLR modificada sem pagar muito não é fácil, mas é possível. Tem que pesquisar muito e aproveitar as oportunidades, mas pela qualidade das imagens que consegue, principalmente das nebulosas vermelhas, pode valer muito a pena.

Nebulosa da Lagoa, fotografada pelo Astrofotógrafo Sandro Rosa com uma Canon 450D modificada. 

Uma CCD de baixa resolução usada

Orion Starshoot G3 Deep Space

Sim, é possível comprar uma CCD refrigerada voltada para astrofotografia por menos de 1500 reais, bem pouco menos, diga-se de passagem. Esses dias havia uma a venda no mercado livre por 1450 reais e se você estiver no exterior, pode até conseguir comprar uma nova com esse montante. Uma Orion Starshoot G3 Deep Space custa 500 dólares em seu modelo monocromático e somente 400 na versão colorida. Outro modelo acessível nesta faixa de preço, é a Atik Titan, mas somente se comprada usada.

A característica mais marcante de uma CCD para céu profundo acessível por menos de 1500 reais será sua baixa resolução. O sensor típico de uma câmera encontrável nesta faixa de preço é o ICX419ALL da Sony, com uma resolução de 752 por 582 pixels. Num telescópio, este sensor produzirá um campo suficiente para a fotografia de galáxias e nebulosas planetárias. A boa notícia é que, apesar do sensor ser muito pequeno, a sua qualidade não deve nada aos sensores de câmeras mais caras, sendo possível conseguir imagens realmente muito boas com essas câmeras, se você não espera publicar um poster de seu resultado. Mas fuja dos modelos coloridos, a qualidade da imagem é muito próxima ao que se consegue com uma DSLR, com muito menos resolução.

Os lugares onde você pode encontrar uma câmera dessas por menos de 1500 reais são os mesmos onde talvez você encontre uma DSLR modificada: fóruns de astronomia e sites de leilões.

M27, fotografada com uma Orion G3 num refletor de 8 polegadas. Autor: Barry E.

Lembre-se, a qualidade das imagens mostradas neste post não representa a total capacidade das câmeras. Elas variam pelo equipamento usado, experiência e habilidade do astrofotógrafo, bem como na qualidade do céu no local e momento da captura.