quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Meu Novo telescópio: Maksutov Cassegrain 90mm com EQ1 motorizada.


O telescópio é instalado rapidamente na varanda. O conjunto todo é bonito e harmônico. Somente o motor parece estar ali de forma forçada.


Semana passada um novo telescópio se juntou ao meu setup astronômico, um Maksutov Cassegrain de 90mm da Skywatcher. Ele vem acompanhado de uma montagem EQ1, cuja compra incluiu também um motor drive. Este telescópio possui um distância focal bastante elevada para sua abertura: 1250mm, sendo considerado um telescópio um pouco escuro para observações de céu profundo e mais adequado para observações planetárias e lunares. Mas nada o impede de colocar a ocular de 20mm ou uma ainda maior para observar os objetos mais brilhantes. Apesar de longo, o tubo é bem curto graças a óptica Cassegrain, que faz a luz passar três vezes dentro do tubo antes de chegar à ocular. Telescópios do tipo Maksutov Cassegrain são celebrados por terem uma excelente ótica e por sua portabilidade, duas coisas que pesaram muito na aquisição.

Com isso eu agora passo a ter três telescópios, este Cassegrain, um refletor de 200mm F4.5 da Orion UK e um Refrator ED de 102mm da Orion US. Estes dois últimos revezam uma montagem HEQ-5. Uma pergunta que você pode estar fazendo é: "mas se você tem um refletor de 200mm, um APO de 102mm e uma montagem HEQ5 com goto e autoguiagem, por que diabos está comprando um pequeno Cassegrain sobre uma montagem EQ1?" A resposta é simples, por que eu não aguentava mais não ter uma opção portátil em casa.

Este pequeno telescópio cumprirá uma série de funções que, devido ao trabalho que é montar e transportar os outros telescópios, eu costumo deixar de lado. Eu agora posso sempre levar um telescópio em encontros do Clube de Astronomia, à casa de amigos quando convidado, a viagens longas, até mesmo de avião. Também posso levar o bichinho para a varanda, mesmo no meio de semana, quando meu tempo é muito escasso, para ver como andam as coisas na Lua, em Júpiter, Saturno, Marte, entre outros objetos do céu. Em resumo, um telescópio portátil é algo que faz muita falta, por isso, fica a dica: se você tem um telescópio pequeno e está pensando em comprar um setup de peso, pense bem antes de se desfazer de seu telescópio menor, você pode sentir muita falta dele.

Este pequeno Cassegrain se destaca quando comparado a um newtoniano ou mesmo refrator de mesma potência e preço. Ele provavelmente é um pouco mais escuro do que um refrator 90mm F10 ou um Refletor de 114mm F8. Mas vale lembrar que um Maksutov Cassegrain apresenta muito menos aberrações que um refrator, mesmo F10, ou do que um newtoniano de 114mm F8 e nem se compara a um newtoniano ou refrator curtos.

Mas a maior vantagem em relação aos similares refletor e refrator para este Cassegrain certamente é mesmo o tamanho. É possível apontar o telescópio para todas as direções com conforto e sem se preocupar com paredes ou pessoas próximas. E a EQ1, que parece frágil com outros telescópios, segura muito bem o pequeno Cassegrain. Esta montagem é muito criticada pela sua fragilidade, mas aqui funciona a mesma lógica de motores para automóveis: um motor 1.0 empurra muito bem um Fiat Uno, mas não espere que ele seja o mesmo tracionando uma Pálio Wekeend.

Mas se  montagem EQ1 e o Cassegrain de 90mm fazem uma dupla quase perfeita. A coisa complica um pouco ao se instalar a motorização. O contra-peso da montagem bate no motor ao movimentar o telescópio de leste para oeste. Virando para oeste, é o controle de precisão do eixo de declinação que bate no motor, fazendo com que seja impossível apontar o telescópio para todas as posições no céu, mostrando claramente que este dispositivo foi uma "gambiarra" e quem projetou a EQ-1 não esperava que houvesse uma caixa de plástico engatada ali.

Mas o que eu não estava gostando mesmo era que, uma vez que o motor estava acoplado a montagem, o controle de precisão da ascensão reta deixou de ser utilizável, pois o motor o deixava travado. Para movimentar a montagem nesse eixo eu tinha que destravar o eixo e movimentar o telescópio manualmente. O que me preocupou foi que, sempre que eu travava o eixo, o telescópio movimentava-se levemente para cima, fazendo o objeto sair de campo. Eu estava usando a ocular de 20mm e comecei a me perguntar se, com esse problema eu conseguiria enquadrar Júpiter na ocular de 10mm.

Eu já tive uma outra EQ1 anteriomente. Ela também era motorizada, mas com um motor diferente, aquele que possuí um controle de mão e é energizado por 4 pilhas grandes que ficam numa bolsa separada do motor, parecendo que a montagem está usando uma bolsa de colostomia. Era um conjunto bem mais pesado e complexo do que o que eu adquiri agora, que é uma peça única, sem controle remoto e energizado por uma bateria de 9 volts instalada dentro da montagem.

Este novo motor tem uma peculiaridade em relação a aquele com bolsa para pilhas. Aqui há um pequeno pino no corpo do motor que tem a função de regular a velocidade. Isto foi algo que me preocupou muito num primeiro momento. O motor anterior tinha uma opção de velocidade padrão que eu sabia ser a certa para acompanhamento de astros. Neste novo, não há esta velocidade padrão, pior, não há indicação alguma do nível certo ou mesmo em que nível se está ajustado, pois o pino não tem qualquer marcação. Eu não sei como isso vai afetar minhas tentativas de fotografar com a EQ1 com uma DSLR, mas o assunto me preocupa.


Primeiras observações

Nas últimas noites, apesar da época de chuvas, o céu abriu em alguns momentos e eu pude, da varanda do meu apartamento usar o pequeno telescópio pela primeira vez. Como a varanda é virada para o leste, eu inverti a posição original do motor, colocando ele do lado direito da montagem. Assim quando eu subisse o telescópio, o contra-peso ia se movimentar para a esquerda, sem bater no motor. também inverti o eixo de declinação, para que o controle de precisão não batesse no motor. Essa configuatação causou uma certa estranheza em quem ve o telescópio pela primeira vez, mas em campo provou ser de longe a melhor alternativa.

Atualização: Alguns colegas que leram esse post e possuem EQ1, disseram que uma boa saída para ganhar mais mobilidade na montagem com o motor é tirar a capa plástica do motor, assim você diminui o seu volume e o contra-peso ganha mais espaço para se movimentar. Achei válida a sugestão, por isso estou colocando aqui.

Com o telescópio posicionado, eu tinha que conseguir enquadrar Júpiter mesmo sem o controle de precisão para ascensão reta. O Cassegrain acompanha uma buscadora RedDot. Eu nunca tinha usado pra valer uma buscadora assim. Ela funciona com uma pequena luz vermelha aparecendo no centro do campo de visão de uma mira sem aumento. A força da luz pode ser regulada de muito forte a quase desligada, o que lhe ajuda para enquadrar objetos escuros. Vale lembrar que essa buscadora usa uma bateria de relógio e é muito fácil guardar o telescópio e esquecer o dispositivo ligado, algo que fiz mais de uma vez. Felizmente é uma luz tão pálida que deve durar semanas, talvez meses funcionando antes de acabar com a bateria.


O motor foi invertido da esquerda para a direita da montagem,. Repare que devido a isso eu devo posicionar a botão Norte/Sul para "Norte".


Eu estava preocupado se teria dificuldades para enquadrar Júpiter, mas na verdade foi muito fácil. Movimentando o telescópio manualmente, sem o controle de precisão da ascensão reta, que estava travado no motor, eu rapidamente coloquei o planeta bem próximo da luz vermelha da buscadora. Com o controle de precisão da declinação ajustei o planeta que ficou um pouco acima do ponto vermelho. Foi aí que percebi que a regulagem do motor também serve como controle de movimento com precisão. Bastou aumentar um pouco a velocidade e Júpiter rapidamente ficou sobre o ponto vermelho. Se o planeta estivesse abaixo do RedDot, bastava diminuir a velocidade, ou mesmo desligar o motor por alguns segundos que o planeta entrava na posição certa. Felizmente foi bem mais fácil e até divertido do que eu esperava. Ajustei a velocidade até o planeta ficar bem no centro do campo de visão da ocular de 20mm e troquei pela de 10mm. No dia seguinte eu percebi que era fácil enquadrar o planeta mesmo com a ocular de 10mm. Lembre-se que eu tenho muita experiência manuseando este tipo de equipamento e isto pode não ser tão fácil assim para outras pessoas.

Para mim a qualidade óptica do pequeno Cassegrain se mostrou deslumbrante ao mostrar Júpiter com a ocular de 10mm. O planeta apresentou uma coloração levemente (bem levemente mesmo) avermelhada, com as duas faixas principais claramente definidas, mais duas faixas finas levemente visiveis e uma mancha escura entre as faixas, claramente visível. Eu também acompanhei o trânsito de Europa, a menor das Luas Galileanas. Sua sombra apareceu de forma muito pálida no disco do planeta, mas estava lá, visível. Também era possível ver claramente a diferença de tamanho entre as luas. Eu tive a impressão de uma imagem muito mais interessante do que a que via com meu antigo refrator de 90mm F10. Mas estou esperando a visita de uma amigo que possui este refrator para uma comparação mais exata.

Com o tempo o motor me estressou um pouco, pois parecia difícil achar uma velocidade em que o planeta ficasse realmente parado no campo de visão. Ele sempre acabava subindo lentamente, ou, se eu aumentasse a velocidade, descendo lentamente. Mas era possível observar por longos tempos até ter que fazer alguns ajustes. Com o tempo fui chegando numa velocidade ideal e percebi que o próprio som do motor, que faz uma espécie de tik tak mais suave, me ajudava entender a velocidade do acompanhamento e funcionava como uma marcação precária.

A buscadora RedDot é muito prática, mas ótima para se esquecer ligada.

O resultado disso tudo é que, apesar dos problemas do motor, até o momento estou muito feliz com o telescópio. Ele certamente será um companheiro para noites de meio de semana e viagens. Se recomendo a compra? Com certeza um Cassegrain de 90mm é uma opção fantástica de portabilidade com qualidade. A montagem EQ-1 não é um "must", mas cumpre a sua função com perfeição neste telescópio. Somente se o desejo é ter uma montagem motorizada que eu faria ressalvas. O motor é simples e divertido, mas o fato dele simplesmente impedir que o telescópio alcance certas áreas do céu não é algo que devemos desconsiderar. De qualquer forma, contemplar o objeto parado na ocular por longos períodos é um conforto que vale o investimento.

Como já é esperado, eu devo mais  para frente fazer alguns testes fotográticos com o conjunto. Até agora eu apenas fiz um registro com a DSLR acoplada ao telescópio em foco primário. Focar com a Canon T2i foi muito simples. Não foi necessário qualquer extensor ou barlow para se atingir o foco ideal, bastou o obrigatório adaptador para encaixar a câmera como ocular e o anel T2. A imagem que apareceu foi bem interessante, sem aberrações. O único defeito bastante visível foi uma forte vinhetagem nas bordas. Flats frames serão obrigatórios.



Imagem sem qualquer tratamento feita com DSLR num dia chuvoso mostrou boa qualidade óptica, sem aberrações, mas a vinhetagem nas bordas é alta.
Além da buscadora red-dot e da montagem EQ1, o Cassegrain acompanha também duas oculares de 10mm e 20mm e uma diagonal de 90 graus, que permite observações confortáveis. O conjunto foi adquirido por cerca de 800 reais no Armazém do Telescópio, com o frete já incluso. O motor é adquirido separadamente por cerca de 160 reais, mas infelizmente eu adquiri o último para EQ1 no Armazém e agora está em falta. Pagando à vista se tem 10 por cento de desconto sobre ambos os produtos, que levaram cerca de uma semana para chegar.

É isso aí pessoal. Espero que tenham achado o texto útil. Depois eu devo voltar a falar da EQ-1, agora com a DSLR sobre ela e alguns testes fotográficos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Apresentação sobre princípios de Astrofotografia na Campus Party Brasil 2015

Pra quem não sabe, no dia 5 de fevereiro eu estive na Campus Party Brasil, em São Paulo para ministrar uma palestra sobre princípios de captura e também uma oficina sobre processamento. A oficina não foi filmada, mas a palestra sim. Como sempre, eu acabei tendo que acelarar no final por ter falado demais, mas felizmente coloquei a parte sobre captura no início da apresentação e, com 50 minutos, pude me aprofundar um pouco no assunto.

Para quem quiser assistir a apresentação, eu a estou disponibilizando abaixo:

Espero que gostem!

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Voltando à Astrofotografia Planetária - Testando a câmera Expanse e o Refletor de 200mm




Júpiter em RRGB com Telescópio Refletor de 200mm F4.5, Extensor Focal de 5x e Câmera Mono Expanse.


Fotografia planetária nunca foi o meu forte. Eu até ensaiei alguns passos no início deste blog, mas nunca tive o equipamento adequado e sempre enfrentei seeings horríveis dos meus locais de  observação urbanos. E o sucesso na astrofotografia de seu profundo, aliada a minha constante falta de tempo para praticar este hobby, que é o meu preferido, me levaram a concentrar meus esforços em nebulosas, quase que abandonando a astrofotografia planetária.

Mas nos últimos meses eu finalmente dei alguns passos para entrar pra valer no registro de planetas. Primeiro adquiri um refletor de 200mm da Orion UK, que apesar de alguns problemas nos anéis de fixação e no focalizador, claramente tem uma óptica fantástica. Depois adquiri um extensor focal 5x, acessório fundamental para astrofotografia planetária, já que os 900mm de distância focal do refletor não seriam o suficiente para aproximar os planetas. Por fim, adquiri uma câmera monocromática dedicada a astrofotografia planetária, a nova Expanse, vendida pelo Armazém do Telescópio. Como eu já tinha uma roda de filtros e um conjunto de filtros LRGB. Bastava um céu limpo para começar.

E verdade é que eu demorei um pouco para estrear a Expanse, que ficou alguns meses guardada na caixa, mas como a varanda de meu apartamento está voltada para o Leste, estou num momento com poucas nebulosas para registrar, já que o Braço de Orion já está indo embora muito cedo e o de Sagitário ainda aparece muito tarde. Assim eu devo dedicar os meus próximos dois meses ao registro de planetas.

Não foi nada fácil começar na astrofotografia planetária. Todo o processo é muito diferente de se fotografar objetos de céu profundo, principalmente com uma câmera monocromática. A diferença mais sentida pra mim é a distância focal. Estou acostumado a fotografar com lentes de 50mm a 200mm e com telescópios de 600mm a 900mm. Pular para 4500mm, e com um sensor pequeno como o da Expanse, não é coisa simples. A buscadora tem que estar perfeitamente alinhada com o telescópio, caso contrário não tem santo ou Go-to que fará o planeta aparecer no sensor. Felizmente a minha buscadora, uma 9x50mm com diagonal, é firme e com imagem muito boa, fazendo encontrar o objeto a missão mais fácil da noite.

A maior dificuldade na primeira noite foi me entender com todo o processo mesmo. A montagem não estava bem alinhada e o telescópio estava bem descolimado. Eu fiz a colimação, com uma ocular de colimação, mas tentei alinhar a montagem depois, mas a movimentação fez o telescópio descolimar outra vez. Eu também fiquei perdendo tempo com vários ajustes de imagem até perceber que o melhor era zerar o ganho e filmar em 16 bits. Essa última questão foi algo de que gostei muito na Expanse e que certamente ajuda a explicar por que essas novas câmeras são melhores do que as Imaging Source, que trabalhavam em 8 bits.

O resultado da primeira noite não me deixou o cara mas feliz do mundo. Por incrível que pareça, eu só fiz uma captação de Júpiter da forma correta, com o ganho no mínimo e 16 bits, mas captei muito poucos frames. Foram 500 para o Luminance e cerca de 200 para cada cor. Depois, conversando com amigos, entendi que podia, e devia, ter captado muito mais. Da próxima vez devo inclusive eliminar a captação com o filtro L e somente captar com os filtros coloridos, por que, diga-se de passagem, achei o resultado da imagem com filtro vermelho muito superior em nível de detalhes a imagem captada com o filtro de Luminance.

O primeiro resultado não me empolga muito, mas eu vejo claramente que há muitas coisas para se melhorar. Com mais captações corretas e mais frames, espero resultados bem superiores no futuro.

O Setup Planetário, pronto para uso!