terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Raios: O prozac do astrofotógrafo brasiliense.



Raios capturados com lente de 50mm, em tempestade próxima a meu apartamento. 2 frames de 10 segundos em ISO 100.

Quinta-feira. Passa da meia-noite. Eu me preparo para dormir. Apago a luz do quarto e me deito. Mas, de repente, percebo um clarão iluminar a cortina do quarto. Sim, deve estar caindo uma tempestade em algum lugar próximo do meu apartamento. Logo, mais um clarão, e depois outro e mais outro. Eu começo a pensar que talvez devesse dar uma olhada no que está acontecendo lá fora. Pronto! Lá vou eu ficar acordado até as três horas da manhã.

Foi uma noite meio atrapalhada. Talvez eu já estivesse com um pouco de sono. Mas a imagem acima mostra que valeu a pena ter levantado da cama, mesmo que no dia seguinte eu tenha sofrido com o sono. Não é a toa que só fui publicar a imagem em meu Facebook dois dias depois. Já que na noite de sexta eu cheguei do trabalho e caí na cama.

Nesta época do ano, a fotografia de raios é o prozac do astrofotógrafo brasiliense mais empolgado. Com o céu sem dar uma chance faz meses, com uma ou outra abertura muito esporádica quando já é hora de dormir, os belos flashes de luz, que iluminam a capital quando as chuvas estão voltando pra valer, são capazes de consolar qualquer um com uma boa vista do horizonte.

No sábado seguinte também voltou a trovejar, só que a tempestade agora estava muito mais distante. Por isso, enquanto a primeira foto deste post foi feita com uma lente de 50mm, a primeira imagem abaixo, feita no sábado, teve o uso de uma lente de 200mm de distância focal. Raios mais distantes também podem ficar mais fracos, exigindo atenção do fotógrafo quanto ao tempo de exposição. Enquanto a primeira foto foi feita com dois frames de 10 segundos, a segunda também foi feita com dois frames, mas de 4 segundos (sim, cada imagem são duas capturas separadas e integradas no Deep Sky Stacker, mesmo software que uso para integrar fotos astronômicas).

Se usasse o mesmo tempo de exposição nas duas imagem, os raios provavelmente teriam ficado muito fracos na segunda composição. Como um raio é um flash que dura alguns centésimos de segundo, quando maior o tempo de exposição de sua foto, mais fraco o raio fica em relação a imagem final. Se o tempo de exposição for muito reduzido, o raio pode ficar forte demais em relação ao resto da paisagem. Sem contar que, com tempos de exposição muito reduzidos, você vai ter que tirar muito mais fotos, gastando muito mais memória de seu cartão, limitando o tempo que vai poder acompanhar a tempestade e reduzindo o tempo de vida de sua câmera DSLR.


Raios capturados com lente de 200mm, em tempestade que ocorreu numa distância muito maior. Repare como as nuvens estão avermelhadas, devido à grande quantidade de atmosfera entre as nuvens e o local da fotografia. Dois frames de 4 segundos em ISO 100.

A mesma tempestade da foto anterior, mais próximo da Torre de TV Digital. Dois frames de 4 segundos em ISO 100.
Às vezes eles vem tão forte que mesmo com dez segundos de exposição o seu brilho estoura a imagem. Frame único de 10 segundos em ISO 100.