terça-feira, 25 de agosto de 2015

A revolução das Impressoras 3D chega aos equipamentos astronômicos.

Constelação de Orion, registrada com lente de 50mm e DSLR modificada. Trata-se de uma composição em que a captura sem filtro foi integrada a um registro com o filtro H-alpha na DSLR, que anexou-se entre o sensor e a lente graças a um adaptador feito em impressora 3D.


Mais de uma vez eu comentei aqui como é difícil se conseguir equipamentos astronômicos no Brasil, devido as dificuldades de importação e aos baixos estoques das lojas. Uma das áreas onde isso é mais grave é a de acessórios e adaptadores. Estes últimos, diga-se de passagem, são muito importantes principalmente na astrofotografia, quando você precisa montar setups complexos, com câmeras, lentes, telescópios, buscadores, setups de guiagem e não sabe exatamente como encaixar uma coisa na outra.

Lá fora a gama de adaptadores disponíveis é enorme, enquanto aqui, as poucas lojas que vendem este tipo de equipamento estão na maior parte do tempo com as suas poucas opções fora de estoque.

Mas nos últimos anos tem acontecido uma revolução interessante num outro campo de equipamentos, e que pode ajudar muito os astrônomos e astrofotógrafos amadores: as impressoras 3D. Impressoras 3D são aquele tipo de tecnologia que no começo surge como uma aparente brincadeira cara para geeks, mas que as pessoas vão descobrindo funções cada vez mais interessantes e quando percebermos, se tornaram um equipamento essencial para muita gente.

Eu já tinha pensando em impressoras 3D para fabricar adaptadores e acessórios astronômicos, mas tive receios em relação ao preço, ao fato de serem máquinas ainda complexas e também se o material plástico usado por elas teria resistência para substituir peças que normalmente são feitas de metal.

Mas recentemente um colega começou a vender nos fóruns astronômicos e Mercado Livre, acessórios para câmeras e telescópios feitos numa impressora 3D. Eu logo me interessei por um, que permitia usar filtros feitos para telescópios com lentes em câmeras DSLR. Existem filtros sendo vendidos assim lá fora. São fabricados pela Astronomik e chamam-se EOS Clip, mas um filtro H-alpha de 12nm da Astronomik com este formato custa 190 dólares. Quer dizer, mesmo comprando um no exterior, com a cotação do dólar turismo de hoje em quase 4 reais, este filtro custaria cerca de 800 reais para mim. Se eu comprasse no site para entregar no Brasil, a brincadeira custaria muito próximo de uma DSLR de entrada. Mas a peça vendida pelo colega me permitiu usar um filtro H-alpha de 7nm que já possuo  com a lente de 50mm. E a peça me custou 35 reais. Não dá pra dizer que não foi uma bela economia. Eu também adquiri um suporte para laser com pezinho para buscadora, para me ajudar a fazer falsas estrelas polares em encontros de astronomia.

Ao receber as peças logo vi que o acabamento não é exatamente o mesmo de um produto industrializado. É possível claramente ver os filamentos usados para a impressão e em alguns pontos há um aspecto de tinta solta. Não são como as peças de metal dourado da Geoptik, mas não há rebarbas e, o mais importante, as peças me pareceram bastante sólidas e o desenho estava perfeito.
Ambas foram usadas durante o último encontro observacional do CASB. O suporte para laser na verdade foi usado o tempo todo, tanto para fazer falsa estrela polar, como também para apontar para o Cometa C/2013 US10 Catalina, que está cruzando os céus, e ajudar os outros participantes a verem o cometa em suas oculares ou câmeras.

O clip para filtro foi usado somente uma vez. O ponto negativo é ser necessário tirar o vidro da montagem para usá-lo, o que, se não for feito com cuidado, pode causar danos ao vidro ou mesmo queda e consequente quebra. Mas não é necessário nada além de colocá-lo sobre o clip e colocar a lente. A imagem no alto deste post, foi feita com a ajuda de um filtro H-alpha, colocado na câmera com o adaptador, complementada com uma captura com a câmera sem o filtro. As duas imagens foram integradas para que a constelação de Orion mostrasse, além de suas estrelas e nebulosas mais brilhantes, o enorme Barnard's Loop, grande nebulosa em formato de semicírculo que sai das proximidades de Bellatrix estendendo-se até perto de Rigel.

É claro que as peças não podem ser comparadas com aquelas feitas em metal, mas como estão sendo usadas para carregar acessórios leves, um pedaço de vidro e uma caneta laser de poucas gramas, atendem perfeitamente. Deve se ter cuidado, ao usar peças feitas com impressora 3D, em substituir componentes que sejam mais exigidos fisicamente, como dovetails e anéis de fixação para grandes telescópios, ou para carregar câmeras pesadas e grandes, como aquelas que acompanham roda de filtro interna. Já para câmeras leves, como DSLRs de entrada, câmeras planetárias, pequenas lunetas de guiagem, entre outros, estes acessórios podem mandar muito bem.


O Clip feito em impressora 3D permite colocar filtro a frente do sensor de uma DSLR com lente (foto Marcelo Bastos)

O Adaptador para laser, com uma base de buscadora dupla. Ambos feitos com impressora 3D (foto Marcelo Bastos).




segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O que são os trackers? Uma opção para quem quer um sistema portátil e simples para astrofotografia com lentes.

Astrofotográfia amadora é tido por muitos como uma atividade bastante complexa, que envolve não apenas telescópio, câmera e montagem, mas também uma infinidade de acessórios, além de um complicado sistema de autoguiagem. Alguns associam uma viagem astrofotográfica a carros lotados até a boca de cases, caixas e bolsas com equipamentos. As vezes é mesmo assim, mas o que muitos não sabem ao começarem na astrofotografia é que existem formas bem simples de se astrofotografar com qualidade, com equipamentos que cabem numa mochila e que podem ser transportados tranquilamente em viagens de ônibus ou avião, sem preocupação em pagar excesso de bagagem, ou até mesmo carregados em longas trilhas.
A forma mais portátil de se astrofotografar é sem dúvida com o uso de lentes (não muito grandes, é claro), no lugar do telescópio. O problema é que, até pouco tempo, as boas montagens eram sempre  dimensionadas para telescópio maiores, por isso muitos astrofotógrafos que registram com lentes, preferiam colocar a câmera montada sobre o telescópio, numa técnica chamada piggy-back, que não ajudava muito a deixar as coisas mais simples.
Felizmente com o crescimento do mercado astrofotográfico nos últimos anos e o aumento das opções de equipamentos totalmente voltados para esta atividade e não pensados principalmente em observação, começaram a surgir montagens bastante portáteis dimensionadas para quem quer registrar somente com a câmera DSLR e lentes menores. São verdadeiras montagens em miniatura, para serem colocadas sobre tripés fotográficos comuns, que permitem ao astrofotógrafo colocar somente a câmera e a lente e conseguir fotos incríveis com um setup muito simples, são os chamados Trackers.
Os trackers são ótimas opções principalmente se o astrofotógrafo precisa se deslocar para locais com céu escuro e não pode ou não quer levar grande quantidade de equipamento, são muito interessantes quando a viagem é rápida, como aquela ida a fazenda de um amigo no fim de semana, ou para viagens muito distantes, principalmente se o meior de transporte usado for aéreo.
O número de trackers no mercado ainda é pequeno, dá pra contar nos dedos, mas são modelos variados, de preços e tamanhos diferentes, que podem ajudar muito o Astrofotógrafo. O mais caros que conheço são o Astrotrac e o Losmandy Starlapse, enquanto o mais barato é o Sky tracker da Ioptron, não por ocaso o que eu possuo, adquirido há algumas semanas durante o Oitavo EBA. Ele tem um concorrente muito semelhante, o Polarie Star Tracker, da Vixen. Mas a grande sensação do mercado atualmente é o Skywatcher Star Adventurer. Que é bem mais barato do que os modelos da Astrotrac e Lonsmandy e mais completo do que os modelos da Vixen e Ioptron.  A Ioptron ainda tem o Skyguider, parecido com o Adventurer, mas com cara de ser mais pesadão.
Eu não vou fazer uma comparação entre todos, principalmente os mais caros, por que não tive contato com eles. Um que não comprei, mas que pude acompanhar de perto trabalhando, foi O Adventurer. usado por dois colegas durante o EBA. Um deles, em especial estava ao meu lado.

Com o conjunto Astro Bundle o Skywatcher Star Adventurer até parece uma pequena montagem e pode ser usado até mesmo com pequenos telescópios e sem a necessidade de uma Ball Head.

O Adventurer vem em três versões, uma mais enxuta, chamada Raspberry, que acompanha Ball Head e telescópio polar, uma intermediária, que recebe o acréscimo de uma base inclinada para alinhar a montagem com o pólo sul (ou EQ wedge), chamada Photo Bundle e uma terceira, chamada Astro Bunble que, além dos acessórios já citados, acompanha um dovetail com adaptador para Ball Head e barra com contrapeso. Esta última versão, mas completa e pra mim a mais recomendada, pois o contrapeso permite maior equilíbrio no acompanhamento, principalmente com o uso de lentes maiores.
Um dos destaques do Adventurer é ter porta de Autoguiagem, permitindo ao usuário uma precisão muito grande no acompanhamento dos astros. Além disso ele vem com modos de velocidade para planetas, Sol e Lua, e outros modos para a elaborações de interessantes time lapses. Completo, com o conjunto Astro Bundle, ele se parece muito com uma minimontagem equatorial. Mas não se engane, falta ao Adventurer motorização no eixo de declinação, caracteristica dos outros trackers, por isso ele não é exatamente uma mini montagem equatorial, como A Smart EQ da Ioptron, que possui motorização no eixo de declinação e até Go-To. No adventurer, como nos outros trackers, você tem que colocar a mão na montagem para posicionar a câmera e ajustar o enquadramento. Essa é uma caracteristicas que geram alguns desconfortos, como a montagem desalinhar com o pólo enquanto você está ajustando. O colega que estava a meu lado no EBA teve que ajustar o pólo várias vezes durante o evento. Eu, com a Ioptron, também passei alguma dificuldade.
O Tracker da Ioptron, que possuo, é bem mais simples que a Adventurer. Trate-se de uma caixa pequena e achatada, com um motor, encaixe para Ball Head, telescópio polar e ajuste de declinação na base. Para usá-lo é obrigatória a aquisição de uma ball head, enquanto no Adventurer é possível posicionar a câmera em qualquer direção somente como o suporte que o acompanha, alguns astrofotógrafos até preferem usar o Adventurer sem a Ball Head, para maior estabilidade.

O Ioptron Sky Tracker é mais simples do que o Star Adventurer, mas ainda é uma opção muito melhor do que uma EQ-1 ou EQ-2.
Um bom tripé também é um acessório fundamental para qualquer tracker. Eu já tinha um em casa que parece que se deu muito bem com o Sky Tracker da Ioptron. Nota: É recomendado retirar a cabeça do tripé e conectar o tracker direto nele, que possui entrada para rosca 3/8. Isso dá muito mais estabilidade e segurança ao conjunto, além de deixar mais leve.
Durante o EBA, eu consegui tempos médios de 3 minutos de exposição com lente de 50mm, 90 segundos com lente de 135mm e um minuto com lente de 200mm, o que considerei muito adequado, mas abaixo do que eu conseguia com a CG-5. Vale lembrar que não usei contrapeso, acessório que pode ser adquirido para o Ioptron e que estou estudando a aquisição. Mesmo assim, são tempos muito superiores ao que eu conseguiria com a EQ-1 num equipamento muito mais portátil.
No Brasil já foi possível adquirir o Ioptron Sky tracker, pelo Caleidocosmo, mas eles pararam de trabalhar com a Ioptron, algo que considerei um erro. Já o Skywatcher Adventurer é vendido no Armazém do Telescópio e está em fase de renovação de estoques. É claro que vivemos uma época complicada no câmbio, mesmo assim, os trackers seguem sendo uma opção barata e portátil para quem que astrofotografar céu profundo em grande campo.

Centro da Via Láctea capturado com o Sky Tracker Ioptron em 28mm e 25 frames de 3 minutos.